Durante a última semana, tenho estado envolvido em alguma leitura, mergulhando no tópico da história Bíblica e da arqueologia no Médio Oriente. Esta é uma área que inspira uma quantidade imensa de literatura e controvérsia devido às paixões que ela envolve, e como tal, pode ser difícil de separar o trigo do joio, mas a boa parte lá presente faz parte do que melhor há no gênero.
Um dos livros que tenho lido tem o título de "Mythic Past: Biblical Archaeology and the Myth Of Israel". O título foi feito como forma de gerar controvérsia, e o autor, Thomas L. Thompson da Escola de Copenhague, há já muito tempo que tem o hábito de provocar os poderes estabelecidos, desafiando a precisão histórica da Bíblia. Durante os anos 60, quando ele estudava numa universidade Católica, a sua tese de doutoramento foi rejeitada pelo recentemente aposentado Benedito XVI (na altura conhecido como Joseph Ratzinger). Segundo o antigo papa, a sua dissertação não era um projeto Católico no verdadeiro sentido do termo.
Thompson atraiu a ira de muitos outros tais como os Israelitas, os Evangélicos Americanos, e alguns eruditos Bíblicos conservadores tais como William Dever. Com o passar do tempo, no entanto, algumas das suas ideias, que foram consideradas heréticas nos anos 60 e 70, têm sido aceites pelo establishment acadêmico [ed: o que não quer dizer que estejam corretas visto que a veracidade de uma teoria não depende da validação acadêmica mas das evidências em seu favor]. Depois de passar anos no deserto, o mundo acadêmico finalmente chamou-o de volta, e nos finais dos anos 80 e pelos anos 90 era já era professor da Universidade de Copenhague.
No entanto, eu não estou interessado nos argumentos de Thompson relativos à historicidade da Bíblia da mesma forma que estou interessado na história regional que ele usa para os construir. Embora eu esteja curioso, quer o Rei David tenha ou não existido não é um tópico importante para mim. O que é muito interessante no livro - pelo menos para mim - é a descrição de Thompson da situação caótica durante o primeiro milênio Antes de Cristo na parte do Médio Oriente que hoje tem o nome de Israel.
Apanhados no meio de múltiplos e concorrentes impérios, os povos da região foram assolados por invasões sucessivas e conquistas territoriais. Como uma localização economicamente e estrategicamente importante, essa região não poderia escapar aos exércitos dos Assírios, dos Persas, dos Egípcios, dos Macedónios e dos Romanos. Quase todos os séculos testemunharam a ascensão e o varrimento da região por um poder militar emergente.
Este foi o contexto dentro do qual a Bíblia foi compilada, e como tal, não admira que haja tanta preocupação com a guerra e o exílio no mais importante Livro Sagrado do mundo.
Cada novo conquistador chegava com o propósito de consolidar o seu domínio; para forçar a sua vantagem, ele iria levar a cabo políticas feitas com o propósito de esmagar a resistência e, sempre que possível, obter o apoio das várias facções. Tipicamente, o novo governante iria acusar o poder antecessor de ter ignorado a tradição, ter profanado a religião, e ter oprimido as pessoas. Isto era propaganda imperial não muito diferente da atual.
Para além da propaganda, a transferência populacional e o trabalho forçado eram amplamente usados como forma de controlar os nativos. Os residentes de cidades tais como Jerusalém e Samaria eram reunidos e enviados para outras regiões, sendo a Babilônia um deles. Pessoas de zonas distantes eram então transportadas para ocupar o seu espaço. Os Elamitas, por exemplo, foram transportados do Afeganistão, que se encontra bem bastante longe de Israel (será que foi por isso que Aristóteles pensou que os Judeus eram originários da Índia?).
Estas pessoas deslocadas estavam dependentes do governante para tudo, e o seu apoio podia ser contabilizado junto das forças que apoiariam o novo governante contra as populações nativas descontentes. Para além disso, havendo sido removidos das suas terras, eles eram indivíduos atomizados sem uma rede familiar que lhes servisse de apoio.
Para justificar esta prática, os poderes imperiais pregariam uma forma de democracia, e praticariam a redistribuição. A ideia era a de que, embora as pessoas tivessem sido arrancadas e colocadas num estado de dependência estatal, muitas vezes num estado de escravatura, Nabucodonosor, Ciro ou quem quer que fosse o seu senhor por essa altura, era o seu salvador. Ele e só ele poderia proteger estas pessoas indefesas das malignas, xenofóbicas forças inimigas, prontas para lhes cortar o pescoço a qualquer momento. Só ele poderia implantar a igualdade entre os súbditos.
É precisamente por este motivo que o Partido Democrata Americano [esquerdistas] se encontra enamorado com os imigrantes ilegais (bem, pelo menos enamorados com a ideia dos imigrantes, se não com as pessoas em si) visto que eles são, para todos os efeitos, uma população cativa e dependente que pode ser contabilizada para aumentar o apoio político das esquerdistas Americanos.
A partir desta história do Médio Oriente torna-se claro que fomentar a dependência é um truque político antigo, e a forma mais fácil de fazer isso é destruir as redes de apoio social que são independentes do governo. Primeiro, sujeita-se a comunidade através das forças das armas. Depois, tiram-se as casas das pessoas.
Finalmente, destroem-se as redes familiares através do conscrição, trabalho forçado e escravatura. Por vezes,
tal como no regime da Alemanha do Leste, pode ser até encorajado que os membros familiares que se acusem mutuamente. O propósito é o de impedir as pessoas de viver de uma forma independente do governo visto que tais pessoas são fortes e podem oferecer resistência.
Tudo isto é bastante familiar.
Quando olhamos para o regime legal do direito familiar a partir de tal perspectiva, é difícil não ver algo mais que um programa sistemático de dependência forçada. As mães solteiras dependem do governo em larga escala, os pais divorciados fazem o papel de conscritos ou trabalhadores sob regime de escravatura, e as crianças, para todos os efeitos e propósitos, pertencem ao Estado. Os homens são lançados para fora das suas casa através de decretos que são aplicados por capangas armados; o seu ordenado é apreendido sem que eles tenham hipótese de ser ouvidos, e entregue ao Estado como despesa. E tudo isto em nome da igualdade.
O direito familiar nos EUA é uma expressão da lógica do poder e o feminismo é apenas uma ferramenta conveniente. O propósito não é dar poder às mulheres - afinal, as mães solteiras são das pessoas mais financeiramente miseráveis entre todos os cidadãos - mas sim destruir o poder da sociedade através da destruição da família.
Pode nem ser uma decisão consciente, mas também não tem que ser. Se um burocrata descobrir uma forma de espremer mais um porcento do dinheiro dos homens através da promulgação duma lei, eles assim farão. Se um político pode de modo mais eficaz criar uma base de apoio promovendo a dependência, ele alegremente agirá dessa forma. As consequências que essas ações têm sobre as pessoas não interessam; o que interessa é que as pessoas em ascensão atuem de uma forma que faça com o que o sistema funcione para elas.
Ainda dentro do contexto Bíblico, talvez os pais que tenham sido lesados pelo sistema possam reconhecer o sentimento por trás da seguinte passagem do Salmo 123, que é do período do Exílio:
Tem piedade de nós, ó Senhor, tem piedade de nós, pois estamos assaz fartos de desprezo.
A nossa alma está sobremodo farta da zombaria daqueles que estão à sua vontade, e do desprezo dos soberbos.
Fonte:http://omarxismocultural.blogspot.com.br