As queixas de Blanco ecoam sentimento de insatisfação generalizado com as condições de vida na capital venezuelana, que incluem inflação superior a 60% e taxa de homicídio entre as mais altas do mundo.
"Há cada vez menos espaços de diversão. Eu gostava de jogar basquete numa quadra perto de casa, mas o lugar virou ponto da bandidagem", diz o vendedor Joaquin Lopez, 28, morador de um bairro popular
Caracas é uma das piores cidades do mundo para viver, segundo relatório divulgado no mês passado pelo centro de estudos britânico Economist Intelligence Unit, com base em cálculo que mescla percepção de moradores, analistas e cruzamentos de dados socioeconômicos.
A capital venezuelana ocupa a 126º posição num ranking de 140 aglomerações que coloca Melbourne, na Austrália, em primeiro lugar, e Damasco, na Síria, em último.
O estudo diz que Caracas foi a cidade latino-americana que registrou a queda mais abrupta em qualidade de vida, perdendo oito posições desde 2009. No mesmo período, São Paulo avançou uma. O destaque na América Latina foi a colombiana Bogotá, que saltou 15 posições.
O responsável pelo estudo, Jon Copestake, disse à Folha que Caracas sofre as "mazelas de uma significativa convulsão social e política que afetou severamente a qualidade de vida".
Para a oposição venezuelana, os problemas são culpa dos presidentes socialistas que governam o país há 15 anos –Hugo Chávez, morto em 2013, e seu sucessor, Nicolás Maduro.
Eles são acusados de arruinar a economia ao expropriar empresas, impor controle cambial e de preços e aparelhar a estatal PDVSA, responsável pela maior reserva de petróleo do mundo.
Essas políticas causam desabastecimento e inflação, segundo críticos.
A direita diz que a situação de Caracas ficou especialmente complicada desde que o Executivo vem manobrando para solapar avanços eleitorais da oposição na capital.
SUPERPREFEITURA
Nas eleições de 2008, a direita arrematou a Prefeitura Metropolitana, espécie de superprefeitura que agrupa os cinco municípios da Grande Caracas.
Em resposta, o governo do então presidente Chávez criou no ano seguinte o cargo não eleito de chefe de governo metropolitano, que esvaziou prerrogativas e orçamentos da Prefeitura Metropolitana.
Quatro dos cinco municípios da Grande Caracas estão hoje nas mãos da oposição, o que acirra a disputa por autonomia e recursos. "Antigamente, as prefeituras tinham força para tocar projetos e reformas.