Quando Marco Feliciano foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara Federal, rapidamente se tornou alvo do Lobby LGBT e da imprensa.
A essa altura do nosso torneio de polêmicas, pouca gente se recorda, mas quando ficou encurralado, com gente de peso como presidente do Congresso, Henrique Alves, pedindo sua renúncia, Feliciano foi abandonado, num primeiro momento, pelo seu partido.
O líder do PSC era o deputado André Moura e o vice-presidente, Everaldo Pereira.
Diante das câmeras, os líderes do partido fingiam estar ao lado de Feliciano, mas, como até mesmo a imprensa secular noticiou na época, internamente o partido queria sua renúncia.
Só quando a onda mudou a favor de Feliciano foi que os chefões do PSC decidiram que o partido iria manter o pastor na CDHM de qualquer maneira.
Confesso que sempre desconfiei da postura dos chefões do Partido Social Cristão.
E tive parte das minhas suspeitas confirmadas por causa da postura “ambígua” – pra não dizer outra coisa – do atual candidato à presidência do PSC, pastor Everaldo Pereira, um dos líderes da legenda que queria a saída de Feliciano da Comissão de Direitos Humanos.
Aliás, lembro que na época dos acontecimentos na CDHM, o pastor Everaldo teve uma postura tímida e quase invisível na defesa de Marco Feliciano. É estranho que agora ele seja vendido pelo PSC como um legítimo liberal-conservador…
Quando a liberdade de expressão de Feliciano esteve em risco, não lembro de ter visto o “herói liberal” Everaldo Pereira tomando a linha de frente na defesa do colega…
O pastor Everaldo é realmente um sujeito curioso.
Ele militou na esquerda durante toda a sua carreira política. Foi discípulo fiel de Leonel Brizola e até hoje se diz um brizolista puro-sangue. Nunca demonstrou qualquer objeção a ideia de que o Estado deve tomar a frente de tudo e de todos.
Everaldo celebrou o governo Lula e também participou, através do PSC, do governo Dilma. Não consta nenhuma crítica dele, em anos anteriores, sobre o tamanho do Estado e sua vulnerabilidade à corrupção…
Eis que um belo dia, Everaldo acordou com vontade de defender o liberalismo econômico!
Talvez uma maçã tenha caído na cabeça de Everaldo – assim como Newton, durante a epifania que o levou a elaborar a teoria geral sobre a lei da gravidade.
Ou talvez ele tenha ido para o pólo ideológico oposto porque o PSC perdeu espaço no governo Dilma e Everaldo, sabiamente, enxergou um nicho eleitoral pouco explorado: o público crescente que clama por alternativas liberais e conservadoras.
O curioso Everaldo ainda tem dificuldades para assumir a ideologia que lhe caiu na cabeça. Nos debates, ainda parece hesitante e um tanto vago quando fala das propostas liberais. E ainda deixa escapar algumas pérolas que revelam sua alma esquerdista.
Durante uma convenção do PDT em São Borja, o novo-liberal Everaldo “arrebatou” o público de sindicalistas ao afirmar que é “brizolista desde criancinha”. Não fiquei surpreso.
Sempre achei o pastor Everaldo aquele tipo de figura que só consegue impressionar os impressionáveis. O tipo de “herói” que não resiste a uma pesquisa no Google.
Em nota direcionada aos liberais e conservadores que lotaram sua rede social com questionamentos, Everaldo respondeu “entendemos ser legítima a manifestação desses setores na luta pelos seus ideais, ainda que equivocados, em nossa opinião”.
Ou seja, aqueles grupelhos que veneram Fidel Castro e acham a Venezuela, mesmo sem papel higiênico, um paraíso, querem um Constituinte para “modificar a economia e a política” do Brasil e o pastor Everaldo, o herói dos liberais, acha que é “legítimo”…
Ele também se apressou em dizer que votou pelo “Não”, ou seja, manifestou-se contra a realização do Plebiscito. Pena que ele não tenha sido inteligente o suficiente para ignorar a iniciativa da esquerda, emprestando sua imagem para legitimar tal sandice.
É o tipo de coisa que acontece quando um “brizolista desde criancinha” vira liberal da noite por dia, sem realmente se arrepender das bobagens que defendeu durante toda uma vida.
Participar do Plebiscito só para dizer não é algo tão criminosamente ingênuo quanto participar do Foro de São Paulo com a desculpa de tentar levar propostas mais liberais ao grupo.
Tomara que o curioso Everaldo não leia este artigo ou talvez, contrariando seus assessores, faça isso um dia. Nunca se sabe até onde vai a genialidade de um brizolista.
Thiago Cortês é jornalista.