Bruno Garschagen e seu livro. / ARQUIVO PESSOAL
Desde que lançou seu Pare de Acreditar no Governo no Rio de Janeiro, no fim de maio, Bruno Garschagen já passou por outras sete cidades para apresentar seu livro, e tem agendados lançamentos em pelo menos outras 11. O autor do bestseller, que tem 12 mil exemplares vendidos em menos de dois meses, questiona na obra por que os brasileiros acreditam tanto no Estado, mesmo desconfiando dos políticos que o comandam, e fala sobre o assunto na entrevista que segue abaixo.
Pergunta. O que lhe motivou a escrever e publicar o livro?
Resposta. A partir de 2007, quando fui fazer o mestrado em Ciência Política e Relações Internacionais no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, comecei a pensar no paradoxo que expus no título: por qual razão nós brasileiros não confiamos nos políticos e, apesar disso, desejamos, esperamos ou pedimos que o governo resolva todos ou quase todos os problemas sociais políticos e econômicos? O fato de estar fora do país ajudou-me a tentar entender essa contradição de uma forma mais adequada, mas foi somente em 2013 que essas reflexões iniciais sobre o problema foram convertidas num projeto intelectual e na pesquisa e estudo posterior que realizei para o livro.
P. Há um momento de promoção do pensamento conservador no Brasil?
R. É o momento ideal para a descoberta e estudo do pensamento conservador estrangeiro e daquele que existiu no Brasil no século XIX, quando as duas forças políticas no país eram os partidos Conservador e Liberal. Também é o momento propício para o surgimento de intelectuais conservadores e para a consolidação do trabalho dos poucos que existem e que merecem ser celebrados pelo que fizeram.
P. Por que o país se beneficiaria disso?
R. Os benefícios são muitos, a começar pelo fato de apresentar à sociedade ideias políticas alternativas e mais adequadas ao Brasil num período histórico em que a esquerda e as demais ideologias intervencionistas dominam a nossa política formal. Outro aspecto positivo é estabelecer um vínculo com a sociedade hoje inexiste pela desconfiança que temos dos políticos, que faz com que rejeitemos a política. Ao rejeitarmos a política, deixamos as decisões nas mãos de políticos em que não confiamos. E, sozinhos, os políticos com essa mentalidade intervencionista trabalham para aumentar o poder político e econômico do Estado. O pensamento conservador político moderno, que não tem nada a ver com isso o que se chama de conservadorismo no Brasil quando se quer insultar políticos como Eduardo Cunha, poderá mudar a nossa cultura política baseado na ideia de mais sociedade e menos Estado justamente porque o conservadorismo desconfia e rejeita projetos de poder que tornam o governo o grande agente social, político e econômico. O modelo ideológico e político que foi desenvolvido ao longo da nossa história, como mostro no meu livro, construiu um caminho para a servidão e creio que o pensamento político conservador poderá pavimentar um caminho para as liberdades, e não apenas a liberdade econômica.
P. Você fala no livro sobre a capacidade da elite política do país de manter a lógica patrimonialista apesar de todas as mudanças institucionais por que o país passou desde o Império. Enxerga alguma possibilidade de mudança dessa lógica agora?
R. Não apenas as elites políticas, mas as elites intelectuais e culturais que estavam comprometidas com ideologias autoritárias também se aproveitavam das outras ideologias irmãs para desenvolver um pensamento e uma prática política intervencionista singular e adaptada à realidade política brasileira que elas mesmas construíram. A crise atual é fruto da atuação do PT, que se valeu de todas as experiências intervencionistas e autoritárias anteriores e as agregou à sua própria ideologia e exercício do poder. O mais interessante do momento histórico no qual vivemos hoje é que uma parcela significativa da sociedade brasileira descobriu esse projeto de poder do PT é a armadilha estatista a qual estamos presos e que foi mantida ao longo da nossa história pela cultura política intervencionista que faz com que até hoje a maioria dos brasileiros, segundo a pesquisa que cito no livro, acredite que o Estado é o grande motor da vida social, política e econômica, mesmo sem confiar nos políticos. A mudança é possível e terá que vir de baixo para cima, ou seja, a parcela da sociedade que já descobriu a armadilha deve influenciar positivamente a outra parcela que ainda está presa e ajudar a inserir na política formal pessoas de bem comprometidas com os ideias de liberdade e devidamente conscientes dessa ótica de poder na qual o Estado não pode nem deve ser o seu próprio fiscal e guardião. Quanto mais poder o Governo tiver, mais os políticos irão exercê-lo e mais nós seremos submetidos ao Estado.