De forma unânime, competidores brasileiros destacam falta de distinção para quem vive do esporte e civis; "Sou da Paz" explica que tenta conter desvio de finalidade
Um dos esportes mais tradicionais das Olimpíadas, presente desde a primeira edição, o tiro esportivo é uma das esperanças do Brasil para conquistar medalhas no Rio 2016.
Atletas falam em burocracia para compra de armas e munições (Foto: André Durão)
Aliás, foi justamente neste esporte que o país garantiu seu primeiro ouro, com Guilherme Paraense, na Antuérpia, em 1920. Hoje, atletas de ponta como Felipe Wu, Cássio Rippel e Júlio Almeida, campeões em suas modalidades no Pan-Americano de 2015, vão representar o time brasileiro nos Jogos, em agosto. No evento-teste realizado na última semana, no entanto, os competidores desabafaram contra o que consideram um dos maiores problemas para o surgimento de novos talentos e uma maior competitividade deles próprios no cenário mundial: o estatuto do desarmamento.
Criada em 2003, a lei restringe o comércio de armas de fogo e munições com a prerrogativa de diminuir a violência e o número de homicídios no país. Sem entrar na discussão da eficácia ou não do estatuto para a diminuição desses índices, os atletas brasileiros reclamam de uma falta de distinção entre eles e o cidadão comum que busca ter uma arma para defesa pessoal. Para os competidores, deveria haver uma lei específica que os ajudasse na aquisição de equipamentos de uma forma menos burocrática e mais barata, já que boa parte deles é importada. Segundo eles, o tipo de armas que usam são muito diferentes do que os bandidos buscam. Sendo assim, não haveria uma justificativa de que poderia "cair em mãos erradas".
- Atrapalha muito, porque ele (estatuto do desarmamento) não faz distinção. Ele foi feito para tentar evitar um problema de criminalidade, mas não há distinção para o esporte ali. Então acaba atrapalhando demais. Você acaba sendo tratado como se fosse um cara querendo comprar uma arma normal. Vamos ficar só nas armas olímpicas, que não são usadas no dia a dia. Uma pistola livre, que é uma arma que se carrega um a um, e é gigante a arma. Você não vai andar com uma arma dessas na rua, mesmo que você queira. E a lei não permite também que você ande com ela carregada. Essa é a diferença do atleta desportivo. Quando você tira um porte para andar com ela carregada, o atleta desportivo, mesmo a documentação em dia, não pode andar com a arma carregada. Se for pego com arma carregada está infringindo a lei. Então essa arma vai separada da munição sempre. Ninguém vai querer fazer um assalto com uma arma de competição. Não tem como. A 22 até poderia. Mas, se você tem dinheiro para comprar uma arma com 5 tiros, você vai comprar uma 9 milímetros com 15 tiros. Ou uma 38, que vai ter uma efetividade muito maior para fazer um assalto do que uma arma de competição - explicou Júlio Almeida.
