quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Curiosidade: Câmara não cassou Cunha por corrupção; entenda as 4 etapas (e reais motivos)

Obviamente, não foi essa a razão que moveu nossos nobres parlamentares. Os reais motivos são outros.

Mostramos ontem que todas as desculpas esfarrapadas usadas para dizer que o impeachment de Dilma Rousseff foi “golpe” serviriam também para a cassação de Eduardo Cunha. E isso só quer dizer uma coisa: AMBOS os processos seguiram a constituição, as leis e os ritos adequados. Fim.

Naquela ocasião, contudo, explicamos o real motivo técnico de seu afastamento: falou mentira numa Comissão. Por conta disso, considerando as regras de decoro parlamentar. Sim, isso mesmo! Ele perdeu o mandato por mentir, não por corrupção, roubo, mutretas na campanha etc.

Mas sua queda, cujo processo em si já se alongou sobremodo, obedeceu quatro etapas. Foram esses os momentos mais importantes a ditar novos e decisivos rumos. O dado curioso é que apenas a quarta etapa, e por iniciativa das pessoas normais, tem a ver com corrupção e denúncias. O resto, como já se poderia imaginar, é pura política.

1º MOMENTO: BRIGA DA ESQUERDA

Eduardo Cunha era visto como um inimigo da bancada esquerdista da Câmara dos Deputados. E isso não tem nada a ver com ética ou corrupção, sobretudo porque isso nunca foi empecilho para alguém receber apoio esquerdista, né? Enfim, a briga era ideológica, mesmo. Segundo os vermelhinhos, Cunha seria o “atraso”, por, entre outras coisas, ser contra a legalização do aborto.

2º MOMENTO: RUPTURA COM O GOVERNO DILMA

Dilma Rousseff, logo após a reeleição, achou que poderia tudo e mais um pouco e achou razoável atropelar o PMDB. Rompeu o acordo até então havido entre as partes (esse é considerado o erro fatal que desembocou em seu impeachment) e tentou impor Arlindo Chinaglia como presidente da Câmara. Cunha revidou, venceu e aí passou a ser uma pedra no sapato. O resto que se segui é apenas recrudescimento dessa animosidade inicial.

3º MOMENTO: MENTIRA NA COMISSÃO

A coisa já estava bem feia entre Cunha e Dilma, com tentativas de reaproximação dando com os burros n’água. Ao mesmo tempo, governo e PT eram bombardeados por denúncias da Lava Jato e também Cunha recebia uma porção de acusações. Em meio a tudo isso, descobre-se que ele mentiu num depoimento na Comissão de Ética sobre contas no exterior. A quebra de decoro não foi por conta de ter (ou não) as contas, mas por ter MENTIDO. Surge então um motivo técnico-legal para sua cassação.

4º MOMENTO: PRESSÃO POPULAR

Foi um processo interminável e, durante seu curso, a pressão popular só fez aumentar. Cunha ainda tentou reverter um pouco isso, especialmente diante do impeachment de Dilma. Mas não adiantou muito. A pressão foi tanta que nenhum deputado – especialmente em ano eleitoral – teria coragem de votar em seu favor. E aí ele caiu de vez.

Recapitulando: contrariedade esquerdista, busca pelo poder no parlamento, uma mentira dita em comissão e a pressão do povo em ano eleitoral. São essas as razões DE FATO que desembocaram na queda de Cunha. Não foi corrupção.

Sim, ele está envolvido até o pescoço e as provas surgem aos borbotões. Mas não foi isso que moveu nossos nobres parlamentares. Triste, mas verídico.

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