quinta-feira, 20 de outubro de 2016

FARC e ELN: tiroteios e mortes entre esquerdistas



PCC-FARC e o ELN abriram outra vez seu volumoso livro de carnificinas.

Desde a Associação Internacional dos Trabalhadores, que contou com a presença de Marx e Bakunin, os quais se acusavam mutuamente de falsificar a “autêntica doutrina” que nos livraria do capitalismo e da sociedade burguesa, passando pelas virulentas pugnas de socialistas bolcheviques contra socialistas mencheviques, e estes por sua vez indo de dedo em riste contra anarquistas e contra comunistas libertários, porta-estandartes do terrorismo individual como método infalível para, certamente, destroçar os possíveis obstáculos históricos que a “velha sociedade” nos teria imposto, passando pelas relações que mantiveram os socialistas nacionalistas alemães com os socialistas internacionalistas soviéticos, relações que frutificaram no pacto Ribentropp-Molotov de 1939, aliança rompida em 1941 por Hitler ante o estupor de Stalin, passando muito depois pelos julgamentos de Moscou, aparelhados com sucessivas quotas exterminadoras no PCUS, passando pela nervosa relação entre Trotsky e Stalin cujo braço culminaria nas mãos de Ramón Mercader para assassinar León Bronstein, no México, passando mais tarde pela pugna sino-soviética que derivou na maior cisão do movimento socialista mundial criando uma imerecida tensão entre pró-chineses e pró-moscovitas, cada um arrogando-se a representação “autêntica” e “verdadeira” da “classe explorada” e acusando-se reciprocamente de “revisionistas”, até aterrissar nas querelas intestinas dos totalitários colombianos, cada um agasalhando-se com a manta propagandística que seu respectivo império comunista lhe tinha para assim passar ao que tudo indica por democratas por suas “críticas” ao “social-imperialismo”, são provas irrebatíveis que despejam qualquer indício de dúvidas para concluir que todas estas discussões e matanças entre militantes socialistas (aqui citamos uma lacônica lista) foram uma inequívoca prática cotidiana da vasta família esquerdista, sazonadas de inculpações bilaterais de traição.

E para continuar aferrados a esse costume, o PCC-FARC e o ELN abriram outra vez seu volumoso livro de carnificinas, no escondido capítulo assassinando-nos entre esquerdistas, para escrever com tinta vermelha outra folha desta longa seção que a academia, dominada pela esquerda, decretou ocultar sob pena de desterro para quem ouse saltar a barreira. Não obstante, às vezes sai alguém a denunciar estes atropelos pela metade. Claro, este personagem tem que ser de esquerda para não manchar o silente mas exigente protocolo imposto pelos guardiães da mentirosa historiografia marxista, para assim guardar certo decoro entre camaradas, companheiros de viagem e centristas.

Assim, o que Carlos Arturo Lozano deixou saber em Voz, principal órgão de propaganda do Partido Comunista Colombiano, em sua habitual coluna Mirador, onde deixou uma constância intitulada “Carta a Gabino”, dividida em duas partes. Na primeira parte, publicada na página cinco da edição 2.851 de 31 de agosto a 6 de setembro de 2016, com um “Apreciado companheiro Nicolás [Bautista Rodríguez, vulgo “Gabino”]”, narra que em novembro de 2007 se reuniu em Caracas com Eliécer Erlinto Chamorro Acosta, vulgo “Antonio García”, chefe quadrilheiro do bando esquerdo-terrorista ELN, por recomendação do então ditador Hugo Chávez. O tema que suscitou o encontro foi “o absurdo enfrentamento entre o ELN e as FARC-EP em vários territórios e do ‘dano colateral’, como talvez o qualificou ‘Antonio’, das mortes de militantes do Partido Comunista Colombiano”. Chamorro Acosta informou ao membro do Comitê Executivo Central do PCC que sua viagem à capital venezuelana tinha como objetivo falar com Luciano Marín Arango, vulgo “Iván Márquez”, acerca do“inconcebível que [é que] nos matemos com os camaradas das FARC, isso a história não nos perdoará”, palavras que, admite Lozano Guillén, comoveram suas “fibras revolucionárias”.

Estas citações contêm alguns aspectos interessantes: primeiro, “Antonio García” diz implicitamente a Lozano que as FARC são PCC, o que seria em absoluto uma calúnia, pois o dirigente comunista lhe reclama pelas mortes de “militantes do Partido Comunista” e o bandido eleno lhe replica que não devem se matar “com os camaradas das FARC”. Quer dizer: o cabeça do ELN reafirma que os camaradas das FARC são militantes do PCC, armados, e que estes, por sua vez, mataram terroristas elenos, acusação subjacente que o diretor deVoz não refuta. Segundo: “Antonio Gracia”, “Iván Márquez” e Carlos Lozano visitam sem problemas a República socialista da Venezuela para conversar com o tirano narco-marxista de turno que serve de organizador de tertúlias para os capos da máfia socialista mundial.

O pacto de não-agressão se concretizou entre Rodrigo Londoño Echeverry, vulgo Timochenko, enviado por Guillermo León Sáenz Vargas, vulgo Alfonso Cano, e Antonio García, comissionado pelo Comando Central do ELN. Lozano expõe que “no partido [Comunista Colombiano, PCC], o celebramos [o pacto] porque foram quase três centenas [300, trezentos] militantes assassinados pelo ELN”. Não obstante, ao que parece não se cumpriu o convênio revolucionário: “O pior, companheiro Nicolás [Bautista Rodríguez, vulgo Gabino], é que mesmo em Arauca o ELN continua assassinando comunistas […]. Você deve ordenar que suspendam-se esses atos vis. Não podem se repetir, se nos atemos ao sentido do conversado pelos dois naquela reunião fraterna”.

Na segunda parte da missiva, publicada na página cinco da edição 2.852 de 7 a 13 de setembro de 2016, lhe reitera seu descumprimento: “o ELN continua assassinando comunistas no estado de Arauca. Sem nenhuma justificação e nem sequer com o pretexto de enfrentamento com as FARC-EP que já não existe. Entre revolucionários as diferenças não se alicerçam a tiros, sobretudo quando uma das partes não está armada e encontra-se inerme frente aos desaforos violentos do contraditor”. Tanto nas recriminações como no ambiente festivo no seio do PCC pelo tratado selado aparecem, outra vez, inclusões tácitas das FARC como uma seção do PCC, concordância que todos os experts se recusam a incorporar em suas análises, para assim posar de politicamente corretos que é a postura progressista e social-democrata do momento.

A carta a Gabino também ressalta o duplo rasante de Lozano: se o ELN mata militantes comunistas, esses sim são assassinatos, mas se as FARC massacram 16 camponeses, como sucedeu em Puerto Bello, Antioquia, em 5 de março de 1996, esses não são assassinatos senão que são “atos” próprios da “dinâmica do conflito armado” ou são “erros” cometidos por “negociar em meio do conflito armado”. Por tal motivo, choraminga a esquerda, deve-se implementar um “desescalamento do conflito” [1]. Pois bem, essa mesma lógica Carlos Lozano deveria aplicá-la ao ELN: os assassinatos contra “militantes comunistas” não são assassinatos, nem crimes, senão “ações” próprias da “dinâmica do conflito armado” perpetradas por um dos“atores” do “conflito” e, em conseqüência, exigir ao ELN um “desescalamento” para que já não sejam “quase três centenas de militantes comunistas” vítimas da “dinâmica do conflito armado”, senão “quase duas centenas”, graças ao benéfico “desescalamento”.

Por outro lado, é urgente que as autoridades investiguem os fatos sucedidos em Arauca para que na Colômbia não se repita um Katyn e assim a autoria material e intelectual desses homicídios seja empurrada goela abaixo aos verdadeiros culpados, esse par de bandos narco-comunistas que em tal coluna confessaram sua responsabilidade, e não ao Exército colombiano, vítima preferida dos “investigadores” de esquerda em conluio ideológico com seus ativistas incrustados no poder judiciário.


Nota da tradutora:
[1] A palavra “desescalamento” não existe no vocabulário, nem formal nem informal, do idioma espanhol. Esse termo foi criado pelos juízes pró-FARC para minimizar os crimes dos terroristas e beneficiá-los na “justiça transicional especial”, muito criticado por juristas, advogados, jornalistas de direita.


Tradução: Graça Salgueiro

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