Em 16 de junho de 1941, enquanto Hitler preparava suas forças para a Operação Barbarossa, Joseph Goebbels planejava uma nova ordem que os nazistas imporiam sobre a Rússia após esta ser conquistada. Não haveria retorno, escreveu, para os capitalistas, sacerdotes ou czares, e em vez do “bolchevismo judaico corrupto”, as Forças Armadas implantariam “der echte Sozialismus”: o socialismo real.
Goebbels nunca duvidou de que era socialista. Ele via o nacional-socialismo (vulgo “nazismo”) como uma forma melhor e mais plausível de socialismo do que o propagado por Lênin. Em vez de se estender por diversas nações, ele operaria dentro de cada pessoa.
A vitória cultural da esquerda moderna foi tão absoluta que a simples exposição desse fato perturba, mas poucos na época teriam visto a questão como controversa. Como escreveu George Watson em
The Lost Literature of Socialism:
Está claro, sem a menor sombra de dúvida, que Hitler e seus companheiros eram socialistas e de esquerda.
A pista está no nome. Gerações posteriores de esquerdistas tentaram justificar a estranha nomenclatura do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (PNSTA) como sendo um truque publicitário cínico ou uma coincidência embaraçosa. Na verdade, o nome significava exatamente o que dizia.
Hitler disse a Hermann Rauschning, um prussiano que trabalhou por um curto período de tempo para os nazistas antes de rejeitá-los e fugir do país, que admirava grande parte do pensamento dos revolucionários que conhecera na juventude, mas que sentia que eles falavam demais e agiam pouco. “Coloquei em prática o que aqueles propagandistas e escribas timidamente começaram”, gabava-se, acrescentando que “o Nacional-Socialismo inteiro era baseado em Marx”.
O erro de Marx, pensava Hitler, foi estimular a luta de classes no lugar da unidade nacional – jogar trabalhadores contra industriais em vez de alistar ambos os grupos em uma ordem corporativista. Seu objetivo, disse a seu conselheiro econômico, Otto Wagener, era “converter o povo alemão ao socialismo sem matar os antigos individualistas” – no caso, banqueiros e proprietários de fábricas – que poderiam servir melhor ao socialismo gerando receita para o estado. “O que o marxismo, o leninismo e o stalinismo não conseguiram realizar”, disse Hitler a Wagener, “nós temos condições de alcançar.”
A ideia de que o nazismo é uma forma mais extremada da “direita” foi incutida na cultura popular. Pode-se vê-la quando “especialistas” chamam partidos revolucionários anticapitalistas e nacionalistas, como o Aurora Dourada grego, de “extrema-direita”.
Em que se baseia essa associação? Na ideia infantil de que a esquerda é sinônimo de compaixão e tudo que foi contrário a ela é repugnante. Quando exposta dessa forma, essa ideia soa estúpida, mas pense nos grupos ao redor do mundo que mídia classifica como “extrema-direita”: o Talibã, que ambiciona a propriedade comunal dos bens; os revolucionários iranianos, que aboliram a monarquia, confiscaram indústrias e destruíram a classe média; Vladimir Zhirinovsky, que almejava o stalinismo. A tática maçante de classificar nazistas como extremistas de “direita” é sintoma de uma ideia mais ampla de que “direita” é sinônimo de “vilania”.
Um dos meus eleitores certa vez se queixou à BBC sobre uma reportagem sobre a repressão dos povos indígenas no México, na qual o governo era dito de “direita”. O partido no governo, ele observou, era membro da Internacional Socialista e, mais uma vez, o nome denunciava: Partido Revolucionário Institucional. A resposta da BBC foi impagável. Sim, eles reconheceram que o partido era socialista, “mas o que o nosso correspondente estava querendo comunicar era que ele era autoritário.”
Imagem do Partido Nazista Alemão onde é possível ler: “O trabalhador Nacional Socialista Alemão resiste ao capitalismo.”