O empresário Joesley Batista, da JBS, caminhava do lado de fora do frigorífico que a companhia possui em Andradina, no interior de São Paulo, com Wagner Pinheiro, então presidente da Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras do qual a JBS acabara de se tornar sócia. “O que é isso aqui, Joesley?”, perguntou Pinheiro. Próximo à entrada do frigorífico, havia um viveiro com mudas de eucaliptos. Pinheiro contou a Joesley que procurava uma empresa do ramo para investir em celulose, e que chegara a negociar com a Vale, mas ainda não encontrara o parceiro ideal. “Ué, se quiser vir ser sócio, a gente conversa”, respondeu Joesley. Ali começava a sociedade que acabaria anos depois sob investigação da Polícia Federal. A informação é do site ‘Época’.
O empresário contou à Operação Lava Jato como, com conexões no PT, conseguiu dinheiro do BNDES e dos fundos de pensão de Petrobras e Caixa para montar a Eldorado
A cena foi relatada por Joesley à Procuradoria-Geral da República (PGR) em delação premiada realizada em 16 de março de 2017. Joesley afirma ter pagado percentuais de investimentos milionários como propinas a ex-presidentes da Petros e da Funcef, essa composta por funcionários da Caixa, além dos ex-tesoureiros do PT Paulo Ferreira e João Vaccari Neto e o ex-ministro Guido Mantega. Em troca, a JBS obteve investimentos tanto dos fundos de pensão quanto do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Aquele diálogo à porta do frigorífico se concretizou em uma empresa, a Florestal, em 2009. Petros e Funcef aportaram R$ 275 milhões cada uma para se tornarem sócias da nova companhia. O empresário afirma ter pagado 1% sobre os valores para cada presidente à época – Wagner Pinheiro, por parte da Petros, e Guilherme Lacerda, então mandatário da Funcef. O percentual soma R$ 2,7 milhões para cada um. Mas não acaba aí. Durante as negociações Joesley diz ter sido convencido por Lacerda a procurar figuras do meio político. Como os fundos de pensão estavam nas mãos do PT, Joesley se aproximou primeiro de Paulo Ferreira, que por sua vez lhe apresentou a João Vaccari Neto, seu substituto a partir de 2010. O empresário diz que combinou com Vaccari de pagar 1% de propina sobre os aportes obtidos por meio da Petros e da Funcef em novos negócios.
A oportunidade chegou no fim de 2010, quando Joesley se decidiu pela fusão da Florestal, a empresa que dividia com os fundos de pensão, e a Eldorado, uma companhia de celulose da qual a família Batista também era dona. A JBS quis tomar empréstimo de R$ 2,7 bilhões no BNDES para criar a maior fábrica de celulose do mundo. Bombardeado por ter financiado R$ 10 bilhões à JBS nos últimos anos, o banco jogou duro e exigiu a fusão entre Eldorado e Florestal para fechar negócio. A união aconteceu, e mais propinas foram pagas a dirigentes e políticos, segundo o empresário.
As cabeças mudaram nesse meio tempo. Na Funcef, Lacerda deu lugar a Carlos Caser, que se recusou a receber os pagamentos ilícitos, de acordo com o delator. Na Petros, Pinheiro foi substituído primeiro por Luis Carlos Afonso, depois por Carlos Costa. Ambos os dirigentes mantiveram os repasses da JBS. No caso de Afonso, Joesley lembra ter comprado para ele um apartamento em Nova York por US$ 1,5 milhão. O empresário afirma que pagou propina a Costa, mas não lembra o valor. “Eu fiz um cálculo lá porque não era percentual de aporte, né?”, contou aos investigadores.
Como o negócio envolveu o financiamento do BNDES para uma nova fábrica, Joesley também recorreu a Guido Mantega, então ministro da Fazenda no governo de Dilma Rousseff. O ministro tinha como função dar uma “forcinha” no relacionamento com Luciano Coutinho, à época presidente do banco, para liberar o empréstimo. Isso aumentou a demanda por propinas. Além dos fundos de pensão e de Vaccari Neto, Joesley afirma ter feito repasses a Mantega. O empresário imaginava que o ministro embolsava o dinheiro para seu próprio luxo, mas disse aos investigadores ter ficado surpreso quando soube que parte da quantia fora mandada por Guido para campanhas do PT. O empresário não especificou valores, tampouco foi preciso em relação a datas e formas dos pagamentos.
A Petros afirma que “não se pronuncia sobre investimentos sob investigação e ressalta que sempre colaborou e seguirá colaborando com a PF, o Ministério Público e demais órgãos responsáveis por investigações que envolvem a Fundação”. O BNDES afirma que é “o principal interessado na apuração de quaisquer fatos que tenham ocorrido em relação a suas operações”. Maria Silvia Bastos Marques, presidente do banco, constituiu uma Comissão de Apuração Interna na terça-feira (16) para avaliar todos os fatos que têm relação com a empresa. A Funcef ainda não se posicionou.
Fonte: Época