
Em redes sociais e grupos de WhastApp, os protestos de quarta-feira (10) na Venezuela estão sendo chamados de “marcha da merda”.
Cartaz do protesto que propõe lançar excrementos contra reação violenta da polícia. “‘A marcha da merda’ – Vamos nos armar! Eles com gás, nós com excrementos”, diz o panfleto
O motivo são os coquetéis “cocotov”, a mais recente invenção dos opositores que promovem uma onda de manifestações contra o presidente Nicolás Maduro no país.
Como o nome sugere, são potes, frascos, garrafas, latas e sacolas plásticas com fezes. Foi lançando esses projéteis que manifestantes reagiram às bombas de gás lacrimogêneo das forças de segurança.
Entre os opositores, circulam mensagens com instruções detalhadas e conselhos sobre como preparar as “bombas de cocô”.
Algumas mensagens dizem para evitar frascos de vidro, para garantir que os coquetéis apenas “humilhem” – e não machuquem.
Marielys Valdéz, do Tribunal Supremo de Justiça, entretanto, alertou que os “cocotov” são considerados “armas biológicas” – e que quem for utilizá-los corre o risco de ser severamente punido.
“O uso de armas químicas, neste caso, fezes de pessoas ou animais, geram consequências não só para quem é o alvo da arma, mas para a população, pode contaminar as águas”, destacou.
A apresentadora do canal estatal VTV que entrevistava Valdéz qualificou o uso dos “cocotov” como “bioterrorismo”.
Há cerca de um mês e meio, o país tem sido palco de protestos diários contra o governo do presidente Nicolás Maduro. A oposição quer o adiantamento da eleição presidencial e a libertação de presos políticos. Eles também rejeitam a convocação de uma Assembleia Constituinte por Maduro em 1º de maio.
O governo acusa a oposição de tentar dar um “golpe de Estado” e realizar “atos terroristas”. Desde que começaram essas manifestações, ao menos 39 pessoas morreram.
Pessoas mortas
Oposicionistas levaram para protesto contra Maduro frasco e postes cheio de fezes na Venezuela
Ao menos 177 pessoas ficaram feridas durante o ato promovido pela oposição em Caracas na quarta, segundo informaram as autoridades.
Ainda que tenham sido emitidas advertências no dia anterior quanto à ilegalidade dos coquetéis “cocotov”, jovens com os rostos cobertos e capacetes usaram elásticos para lançar “bombas de cocô”, pedras e coquetéis molotov.
“Estamos na rua e vamos ficar. Não sairemos até que isso acabe, até que Maduro deixe o governo”, disse Luis Orta, um empresário de 52 anos.
O influente apresentador da TV estatal Mario Silva disse em sua conta no Twitter que o uso dos “cocotov” é um “ato de desespero, (…) de loucura”.
Cresce a ‘criatividade’ na autodefesa
A escassez de recursos e a violenta repressão da polícia contra os protestos obrigaram os manifestantes a serem mais criativos em defesa própria. Contam-se 37 mortos e centenas de feridos desde que, em 30 de março, a oposição convocou seus seguidores às ruas para tentar impedir aquilo que os antichavistas veem como um autogolpe de Estado, baseado em decisões do Tribunal Supremo que na prática dissolviam o Parlamento e davam amplos poderes legislativos ao presidente.

Segundo matéria do ‘El País’, ainda antes das bombas de excrementos, se popularizaram as bombas de tinta, com as quais os manifestantes tentam impedir a visão dos tripulantes dos veículos antimotins. Também se espalhou nas redes sociais os tutoriais para a fabricação de escudos artesanais. Esses utensílios, usados contra as bombas de gás lacrimogêneo, são feitos de compensado de madeira.
Oposicionistas levaram para protesto contra Maduro frasco e postes cheio de fezes na Venezuela
Porta-vozes do Governo dizem em que a vanguarda das manifestações é formada por mercenários pagos e armados. Algumas mortes atribuídas ao impacto direto das bombas de gás contra as vítimas foram na verdade causadas, segundo os chavistas, por disparos de armas artesanais que usam rolamentos como projéteis.
Fonte: G1 e El País