“O Cristianismo é o fundador da moral ocidental e o mediador intelectual da filosofia grega e direito romano, além de fundador da ciência moderna”
Há verdades incômodas, mas que não deixam de ser verdades apesar de não gostarmos delas. Por exemplo, quem parou Hitler na segunda guerra mundial foi outro ditador ainda mais sanguinário: Stálin. Devemos agradecê-lo? Acho que isso é demasiadamente torpe e humanamente impossível para mim, isto é, agradecer qualquer tirano por quaisquer atos que possam ter gerado algum bem involuntário e secundário. Mas sempre devemos admitir os fatos; a realidade e verdade liberta, ainda que nos doa e não seja agradável aos nossos egos admiti-las.
Dizia Régine Pernoud:
“Impossível negar de modo mais ingênuo ou com menos pudor a História. A liberdade de pensamento, que ela exige e necessita, como toda pesquisa científica, não pode ser confundida, de forma alguma, com fantasias intelectuais de um indivíduo, ditadas por suas opções políticas, suas opiniões pessoais ou seus impulsos momentâneos, ou mais simplesmente pelo desejo de escrever um volume de grande tiragem”[1].
Algo que sempre me deixou estupefato foi como os doutos acadêmicos, em sua maioria ateus, defendem e até arrogam que o islã deve ser uma das matrizes da “nova sociedade ocidental”. Estes têm orgasmos intelectuais ao perceberem as aberturas destemperadas das fronteiras ocidentais para os muçulmanos radicais. É justamente esta ligação entre ateus e muçulmanos que eu gostaria de analisar hoje. O que eles possuem em comum é o ódio ao Cristianismo e à cultura judaico-cristã, ignorando todos os fatos que evidenciam que a estrutura do Ocidente moderno é próprio Cristianismo.
Sempre que eu vejo um debate sobre o islamismo, ou até mesmo apologias de certas correntes políticas a ele, eu me questiono: será que eles realmente desejam a cultura islâmica no ocidente, ou falam isso somente por fetiche acadêmico, por uma conclamação politicamente correta, uma tolerância disforme e sem sentido? Vocês já refletiram que democracia moderna, liberdade de expressão, liberdade religiosa e avanço tecnológico e científico estão diretamente e simbioticamente unidas aos valores judaico-cristãos? Quantas sociedades islâmicas se abriram à ciência e a democracia, aos avanços filosóficos e sociais, assim como ocorreu no Ocidente cristão?
Coleção: História da Igreja de Cristo
Uma rápida olhada na extensa obra “Igreja de Cristo” de Daniel Rops, ou nas obras de Régine Pernoud, Thomas E. Woods Jr., Christopher Dawson, Jacques Le Goff, entre outros, logo constatamos que o avanço ocidental passou diretamente — e necessariamente — pela abertura científica da Igreja Católica para os estudos do universo em seu nível macro e micro. Sem a cultura cristã o Ocidente teria parado, ou sofrido grandes penalizações, já na queda de Roma. Quanto menos teria chegado à renascença ou na modernidade com toda a sua robustez intelectual e científica.
Outra verdade incômoda que a modernidade não aceita é a de que homens colossais da ciência — sem os quais não poderíamos sequer falar de avanço científico ou de modernidade — foram cientistas-cristãos, convictos de suas crenças e defensores delas. Vejamos alguns: Roger Bacon (1214–1294), precursor do método científico e Frade católico; Robert Boyle (1627–1691), conhecido como o pai da química moderna, um cristão fervoroso; Isaac Newton (1642–1727), em sua obra Principia, no final do livro, ele diz: “Este mais belo Sistema do Sol, Planetas e Cometas poderia apenas proceder do conselho e domínio de um Ser inteligente e poderoso”[3]; Charles Babbage(1792–1871), apologista cristão e precursor do conceito de computação programada; George Mendel (1822–1884), monge beneditino e pai da genética; Georges Lemaître (1894–1966) criador do conceito de hipótese do átomo primordial, que depois seria conhecido como teoria Big Bang, Lemaître também era sacerdote católico. Bom, creio que esses exemplos sejam satisfatórios para ilustrar a minha argumentação.
Albert Einstein e Georges Lemaître
Com isso, todavia, não quero negar os fatos de que muitos homens da igreja se opuseram aos avanços científicos, mas quero deixar claro que: ainda que as oposições de reacionários existissem — e de fato existiram — , o apreço pelo conhecimento e a manta estendida do Cristianismo em prol dos estudos sempre prepararam o intelecto dos crentes para o conhecimento do mundo criado por Deus. Antes das formulações de doutrinas e dogmas já havia uma verdade inconteste, um senso-comum irrevogável de que o mundo foi feito por Deus para que os homens o conhecessem; e contra isso nem a Igreja católica ou as igrejas protestantes poderiam se opor durante muito tempo.
Muitos insistem em acreditar nas parlengas ateias dos iluministas, nos fatos astronomicamente — e pateticamente — exagerados. Quem nunca ouviu falar “dos milhões de mortos pela inquisição”, ou que “o Papa Pio XII era aliado de Hitler na segunda guerra mundial”? Quem nunca ouviu falar que a Igreja Católica, e que o Cristianismo em geral, barrou os avanços científicos? A pergunta que incomoda é: quais sociedades islâmicas alcançaram o mesmo patamar de evolução e profundidade intelectual e científica do Ocidente cristão?
“A verdade é que, até para ser um laicista, ou melhor, até mesmo para ser um ateu raivoso você precisou da abertura democrática do Cristianismo que veio a partir da aceitação lenta e prudente da filosofia grega nas teologias cristãs”
Veja, e isso não se trata de uma briga de arquibancada entre cristãos e islâmicos; mas de explanações de realidades históricas realmente incômodas para muitos. Não se trata de diminuir, de forma alguma, os avanços culturais e até mesmo de intelectuais do oriente muçulmano que de fato houve e não há como fingir que não; se trata, em suma, de proporcionalidades das realizações sociais advindas das concepções estruturais de cada visão de mundo. E neste aspecto não há comparação ou nivelamento entre ambas as religiões. O Cristianismo foi a manta que proporcionou os avanços políticos, científicos e sociais no Ocidente; retirando a moral judaico-cristã de nossa realidade ocidental sobraria apenas um montante de informações e caracteres esparsos e desconexos com a realidade moderna. O cristianismo é o fundador da moral ocidental e o mediador intelectual da filosofia grega e direito romano, além de fundador da ciência moderna.
A verdade é que, até para ser um laicista, ou melhor, até mesmo para ser um ateu raivoso você precisou da abertura democrática do Cristianismo. Eis o que eu afirmo: para que os ateus tivessem o direito de serem ateus, antes, foram necessários os cruzados morrendo em batalhas para barrar os califados; as copias de obras monumentais da humanidade, feitas a mão — uma a uma — por monges copistas; a clausura intelectual dos Franciscanos apologistas; e a criação das universidades pela a Igreja Católica. Caso contrário os ateus poderiam estar piedosamente, nesse momento, ajoelhados em seus tapetinhos virados para a Mecca. Quem defende o Islã no ocidente — sem ser um muçulmano — são somente aqueles que desfrutam das virtudes sociais do próprio Ocidente, de suas liberdades democráticas. Em todos os países de herança judaico-cristã são permitidas as construções de templos islâmicos; a
o passo que na Arábia Saudita o simples fato de ser cristão é crime; portar uma Bíblia na Somália ou nas Ilhas Maldivas é certeza de martírio.
Na xaria não há liberdade para ser ateu ou laicista, não há feminismo ou direitos humanos no islã. Se hoje há a liberdade de negar a existência de Deus, se hoje pode-se cuspir no Cristianismo a sua arrogância intelectual frente “a ignorância titânica dos cristãos moralistas”, agradeça antes aos cruzados. Aqueles homens que saiam de suas casas para morrer por um mundo onde amar Deus sobre todas as coisas e o próximo como a ti mesmo era a regra mais sagrada que existia.
Não digo que não houve erros e barbáries sob o Cristianismo, o que eu afirmo é que quem continua a decapitar, queimar, estuprar, pregar uma sociedade teocrática jihadista e extremamente totalitária não são os cristãos — aliás, nunca foram os cristãos. A virtude do homem não está em negar suas heranças sombrias, mas sim em reconhecer seus tropeços e mudar seus atos. Mas, ainda assim, é bom lembrar o que Régine Pernoud disse: “Para o historiador do ano 3000, onde estará o fanatismo? No século XIII ou no século XX?”[4]. A inquisição, perto do que fizeram Stálin e Mao Tse Tung, por exemplo, foi uma traquinagem infantil de fim de tarde.
A história tem disso: as cruzadas do passado forjaram o apreço de um povo pela liberdade. Ao ponto que, conviver com as diferenças religiosas, no Ocidente, tornou-se um valor cultuado, uma virtude louvada. As cruzadas impediram que o ocidente fosse forjado pela xaria, proporcionando, entre muitas coisas, que a democracia fosse um princípio régio e o ateísmo uma escolha possível. Até para serem ateus vocês precisaram do Cristianismo!
Referências:
[1] PERNOUD, Régine. Idade média: o que não nos ensinaram, 1ª Ed, Livraria Agir: São Paulo, 1974, p. 110
[2] IN, HEREN, Fred. Mostre-me Deus: o que as mensagens do espaço nos diz sobre Deus, Clio editora: São Paulo, 2008, p. 404
[3]PERNOUD, Régine. Idade média: o que não nos ensinaram, 1ª Ed, Livraria Agir: São Paulo, 1974, p. 108
Fonte ; https://blogdocontra.com.br/se-n%C3%A3o-fossem-os-crist%C3%A3os-af48e9abd0e4