Para criador do programa, preconceito só vale com a fé cristã
A obsessão da Globo em fazer do cristianismo uma piada
Quando ainda se chamava Zorra Total, o humorístico de sábado da rede Globo ficou 15 anos no ar e era recheado de bordões e o humor “à moda antiga”. Considerado ultrapassado em tempos onde o politicamente correto predomina, saiu do ar para voltar “repaginado”. Com o nome encolhido para “Zorra”, apostou em quadros mais curtos, com atores mais novos, que fizeram sucesso em outras emissoras ou na internet.
Já que não queria mais fazer piada com mulher burra e com homossexual, Melhem e sua equipe escolheram então satirizar a fé.
Em uma entrevista ele afirmou: “Não estamos aqui para criticar religião. Quando fazemos uma crítica, geralmente é ao uso que se faz dela, não à religião em si. Ela a gente respeita”.
A promessa de que não haveria críticas cai por terra quando se nota que nas últimas semanas, o programa vem incluindo a fé cristã regularmente como tema das piadas.
Em 14 de outubro,
no quadro “Pastor moderno”, o líder evangélico interpretado por Welder Rodrigues, diz que o dízimo é o momento “mais importante do culto”. O tema da piada é a comparação da igreja com um táxi, forçado a competir com outras igrejas novas, as “do aplicativo”.
Uma semana depois, em 21 de outubro, no
esquete “Milagre de Jesus”, o Cristo vivido pelo ator George Sauma se comporta como um jogador de futebol, fazendo milagres como quem marca um gol e corre para se exibir para a torcida.
No programa seguinte, de 28 de outubro, apresenta-se um
“Jesus prafrentex” no esquete onde ele critica a Deus pelo conteúdo da Bíblia, dizendo que estava ultrapassada e precisaria ser reescrita.
O Zorra mais recente, que
foi ao ar em 11 de novembro apresentou o quadro “Jesus voltará” mostrando a mesma igreja de outros programas. Jesus vai visitar os fiéis no templo e o pastor vivido por Welder Rodrigues manda que o expulsem. “Vai estragar o nosso negócio”, diz o líder religioso a um dos seus assistentes.
Essa aparente obsessão da rede Globo em fazer do cristianismo uma piada não é novidade. A diferença parece ser o tipo de reação que ela causa nas pessoas.
Em dezembro de 2015, três esquetes do Zorra fazendo piadas Nossa Senhora de Fátima Zorra revoltaram católicos do país todo. Imediatamente, a Arquidiocese de São Paulo
publicou uma nota de repúdio criticando a emissora, afirmando que não ficava bem “fazer zorra da mãe dos outros, nem das pessoas e coisas sagradas”.
A Globo respondeu, também em nota, afirmando que o Zorra deseja apenas entreter e que “respeita a diversidade, a liberdade de expressão e repudia qualquer tipo de intolerância e preconceito”. Desde então não houve mais piadas com zombaria à igreja católica.
Aparentemente, falta aos líderes evangélicos a mesma capacidade de indignação da Arquidiocese pela maneira estereotipada como foram retratados. A emissora, por sua vez, continua repudiando “intolerância e preconceito”, menos quando se trata da fé cristã. Afinal, nenhum quadro do Zorra neste mesmo período fez piadas, por exemplo, com Maomé ou com as religiões afro-brasileiras.