
No primeiro embate de alta temperatura entre os pré-candidatos esquerdista João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB), o tucano atacou o atual ocupante do Palácio dos Bandeirantes com críticas duras, nesta quinta-feira (12), e o governador reagiu, anunciando que pedirá ao MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) que investigue se houve crime contra sua honra.
O socialista fabiano Doria, que vem adotando a tática de associar o socialista França à extrema esquerda ligação que o governador rechaça, repetiu o discurso durante uma entrevista: se referiu ironicamente a ele como "Márcio Cuba" (depois se corrigiu) e afirmou que o socialista idolatrava o ex-presidente Lula (PT).
Falou ainda que o oponente na disputa pelo governo estadual não tem nenhuma realização para mostrar, que usa a estrutura pública para "fazer política partidária o dia inteiro" e que alicia prefeitos e deputados, com promessas de verbas e cargos, em busca de apoio para sua campanha.
Um dos exemplos, disse Doria, é a disposição do oponente para ajudar municípios com verba para pavimentação de vias. Como a Folha mostrou no mês passado, o ex-prefeito também usou o asfalto como vitrine em sua gestão.
As declarações foram feitas à Jovem Pan, rádio que na terça (10) tinha entrevistado França. Da parte do governador, também houve disparos na direção do tucano, a quem o socialista chama de "uma pessoa sem palavra", por não ter cumprido o compromisso de ficar na Prefeitura de São Paulo até o fim do mandato.
França publicou mensagem numa rede social horas depois da entrevista de Doria, respondendo no mesmo tom. Escreveu que "o prefeito que abandonou a cidade de São Paulo" fez "aquilo que ele sabe fazer de melhor: mentir, plantar o ódio e semear a divisão".
O governador disse que entrará com uma representação no MP-SP por causa de mentiras ditas pelo tucano. A avaliação no palácio foi a de que Doria pode ter cometido crime contra a honra (categoria do Código Penal que inclui injúria, difamação e calúnia).
Questionado pela reportagem sobre a ação prometida pelo chefe do Executivo paulista, o ex-prefeito não respondeu diretamente. Via assessoria, ele reafirmou as críticas: "Márcio França não governa. Faz campanha. Aliás, continua a fazer hoje o que fez durante todo o período como vice-governador de São Paulo: nada, exceto política partidária e eleitoral".
"Tenho apenas a lamentar a postura de um homem como ele, que deveria entender a política como instrumento de consenso, diálogo e conciliação. O estado de São Paulo, por sua grandeza e força, não merece esse tipo de atitude, disse o socialista na postagem.
Em 2016, França foi um dos líderes das articulações partidárias que ajudaram a eleger Doria prefeito da capital. O hoje governador, então vice de Geraldo Alckmin (PSDB), fez campanha para o tucano e diz que essa é a maior prova de que ele não é de extrema esquerda.
Dois anos depois da parceria, a conversa é outra. França fala que o adversário está isolado dentro e fora de seu partido; Doria diz que quer "distância de extremista", encaixando o antigo aliado nessa categoria.
"O caso do prefeito que abandonou SP é psicológico, e não político", afirmou o governador na rede social.
"O debate será quente", sentenciou o ex-prefeito nesta quinta na rádio.