por: Rodrigo Gurgel
Acaba de chegar aqui o último livro do meu caro Olavo de Carvalho: O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota (em pré-venda na
Livraria do Seminário). Mais que uma simples coletânea da sua extensa produção de artigos, a obra apresenta importante diferencial: os textos foram organizados por temas – e o organizador do volume,
Felipe Moura Brasil, teve o cuidado de acrescentar notas esclarecedoras, relevantes, que indicam bibliografia suplementar e fornecem trechos elucidativos de outros textos do autor.
O alentado volume oferece oportunidade ímpar aos detratores de Olavo: podem, a partir de agora, falar mal dele não motivados por suas próprias mesquinharias, mas com base no que ele realmente escreveu. A frase anterior é, claro, apenas um exercício irônico de estilo: aqueles que não leram Olavo até agora – e preferem não ler e não gostar –, dificilmente mudarão de atitude. Perdem, assim, a oportunidade de conhecer o pensamento mais audacioso que surgiu neste país nas últimas décadas. Mas isso nada significa para quem está feliz seguindo o rebanho, de olhos presos ao chão e pronto a balir em uníssono.
Num rápido passar de olhos, reencontrei artigos e ensaios memoráveis. Todo jovem deveria ler “Vocação e equívocos”, originalmente publicado na extinta Bravo!, em fevereiro de 2000 – exemplo do que nossos educadores deixaram de ensinar, o texto expõe a ética subjacente às aulas que Olavo ministra em seu
Seminário de Filosofia.
Em “Literatura do baixo ventre” (Jornal da Tarde, 3 de julho de 2003), Olavo serve-se das Memórias de Adolfo Bioy Casares para realizar uma vivissecção na literatura contemporânea brasileira, grande parte dela produzida com um arremedo de fervor, tão rasteiro quanto as lições estruturalistas, desconstrucionistas e relativistas que nossos acadêmicos repetem como autômatos.
E se você, leitor deste blog, sente-se de alguma forma desconfortável na universidade ou no colégio; se a cada fala do professor uma luz incômoda acende em seu cérebro, sem que você consiga descobrir o motivo do seu mal-estar; ou se, depois de perceber seu desacordo em relação ao que lhe ensinaram, você ainda não alcançou clareza suficiente para compreender onde está o erro, onde está a mentira; se as lições diante das quais todos dizem “amém” já não lhe servem; em qualquer destes casos, comece o livro pela última seção, “Estudo”, e perceberá que o naufrágio da cultura nacional não é uma cena épica de Joseph Conrad, com um navio majestoso afundando depois de servir aos mais nobres ideais, mas triste, trágica decadência – à qual, entretanto, não estamos condenados.
A cada capítulo, falando de política internacional ou economia, desnudando nossa intelligentsia ou a farsa petista, Olavo de Carvalho reafirma o que disse, com ironia, em janeiro de 2007, no artigo “A autoridade religiosa do mal”, publicado no Diário do Comércio e reproduzido neste livro: “Não sou covarde o bastante para me abster de dizer as coisas como as vejo, só por medo de uma rotulação pejorativa”. Em outros termos, é como se dissesse: “Não me peçam para obedecer ao senso comum”.
Ora, o que mais se pode pedir da inteligência de um homem, exatamente quando, da janela do meu apartamento, vejo todos, praticamente todos, caminhando na mesma direção?
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