sábado, 15 de março de 2014

A HISTÓRIA SECRETA DO ARQUIPÉLAGO GULAG

O escritor Aleksandr Solzhenitsyn dedicou o seu livro "O Arquipélago Gulag" a "todos os que não viveram para contar a história". A história contada por Solzhenitsyn leva-nos até ao horror dos campos de trabalhos forçados soviéticos - uma experiência pela qual passou, e que, para ser contada, o levou à clandestinidade e ao exílio.

Prisioneiros Gulag a trabalhar (1936-1937), (Wikicommons).

Um segredo que se revelava pela pujante extensão territorial, descortinando-se diante dos russos, lituanos e poloneses, entre outros, que estavam submetidos à influência da União Soviética. Eram os campos de concentração do Gulag – a sigla para Glavnoe Upravlenie Lagerei, ou "Administração Central dos Campos", expressão que passou a descrever o sistema soviético de punição, aplicado aos prisioneiros comuns e políticos, além dos trabalhos forçados. Estiveram presentes em todo o território, da Sibéria à Ásia Central, dos montes Urais a Moscou.
O Gulag teve seu cerne na Rússia czarista, com os campos de trabalho. Após a Revolução Russa, assumiu uma forma moderna, tornando-se parte integral do sistema soviético: em 1921, já havia 84 campos de concentração em 43 províncias. E não parou de crescer - expandiu-se durante a II Guerra Mundial e atingiu seu apogeu no começo dos anos 50. Nessa época, os campos desempenhavam um papel crucial para a economia soviética. Deles provinha um terço do ouro do país, bem como carvão e madeira. Surgiram, aproximadamente, 476 complexos distintos de campos, onde os presos trabalhavam em quase todas as atividades.
 
Distribuição dos campos Gulag, (Wikicommons).
Em 1973, “O Arquipélago Gulag” surgiu como obra responsável por uma revolução na maneira de pensar o regime soviético. Os depoimentos dos prisioneiros e outros documentos converteram muitos intelectuais de ideologia esquerdista, sobretudo na França, em anti-soviéticos. Aleksandr Solzhenitsyn, seu autor, fez um levantamento de fatos ocorridos após 1918, ano do seu nascimento, até 1956, denunciando o trabalho escravo dos campos, por onde passaram mais de 18 milhões de pessoas. Dessas, cerca de 6 milhões sofreram o degredo, desterradas para os desertos cazaques e florestas siberianas.
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A narrativa começa por ocasião da prisão de Solzhenitsyn, em 1945, condenado sem o devido processo legal e sentenciado a oito anos de prisão e mais outros três anos de confinamento no Gulag. Relata as condições de vida de um “zek” (uma corruptela do termo "zakliuchennyi", que significa prisioneiro), detalhando circunstâncias que só poderiam ser vistas de dentro: o transporte para o Gulag, os interrogatórios, o sistema de trabalho escravo, as rebeliões e tentativas de fuga, o conjunto de procedimentos que os presos conheciam por "o moedor de carne". Divulga, inclusive, a existência de uma equipe de cientistas, também prisioneiros, liderados por Andrei Sakharov, que criou uma bomba de hidrogênio para a União Soviética.
O autor escreveu nesta obra: “Se houvesse pessoas más cometendo insidiosamente ações más somente em algum lugar, então seria necessário apenas separá-las de nós e destruí-las. Mas a linha dividindo bem e mal corta através do coração de cada ser humano. E quem está disposto a destruir uma parte do seu coração?”
Sigilo profissional O grande volume de documentos que Solzhenitsyn conseguiu reunir em “O Arquipélago Gulag” fez com que a KGB (a polícia secreta da União Soviética, criada em 1954) tentasse destruir o seu trabalho. Por conta dessa perseguição o escritor viveu clandestino até 1973, quando foi exilado. Seis semanas antes, o livro tinha deixado as prensas parisienses em direção ao reconhecimento mundial.
 Vista interior de um casa de prisioneiros Gulag, (1936-1937) (Wikicommons).
A KGB chegou a confiscar materiais que serviriam de rascunhos, no período entre 1965 e 1967, e, devido ao risco a que estava exposto pela continuidade das investigações, Solzhenitsyn trabalhou as várias partes do seu manuscrito em momentos diferentes, de maneira a não colocar o livro inteiro em perigo. Por esta razão, ele dividiu-o e colocou suas várias partes sob a tutela de amigos, em Moscou e arredores. Utilizando o pretexto de visitas sociais, trabalhava em seu texto nas diversas casas de sua confiança.
Após a conclusão, os manuscritos do original foram mantidos escondidos na Estônia pela filha de Arnold Susi, advogado e ex-ministro estoniano da Educação. Em 1968, “O Arquipélago Gulag” foi microfilmado e contrabandeado para fora da União Soviética, por um representante legal, Dr. Fritz Heeb, de Zurique, com o objetivo de dar andamento à publicação.
Aleksandr Solzhenitsyn (prêmio Nobel da literatura) retornou ao seu país em 1994, três anos depois do fim da União Soviética, e morreu, no dia 03 de agosto de 2008, com 89 anos de idade.
Outras informações estão disponíveis no Museu do Gulag.
Fonte:http://obviousmag.org

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