BRASÍLIA (Reuters) - A análise pericial dos restos mortais do
ex-presidente João Goulart, divulgada nesta segunda-feira, não encontrou
vestígios de substâncias tóxicas, venenosas ou mesmo de medicamentos
que possam ter levado à morte dele.
O resultado não é totalmente conclusivo, porque algumas das substâncias
que poderiam ter sido usadas em um suposto envenenamento não puderam ser
periciadas devido ao tempo que se levou até a exumação dos corpo de
Jango, que morreu na Argentina, onde estava exilado, em 1976. Não houve,
portanto, como comprovar que a morte tenha ocorrido por causas
naturais.
“A investigação da causa natural da morte evidentemente ficou
prejudicada em razão do tempo decorrido e pelas transformações pelas
quais passa o corpo após a morte”, disse o médico perito criminal
Jeferson Evangelista Corrêa, da Polícia Federal.
“Nas amostras de toxicologia que foram colhidas e analisadas, nós temos
como resultado que nenhum medicamento tóxico ou veneno, registrados
previamente pela Secretaria de Direitos Humanos, nenhum daqueles
medicamentos ou tóxico ou veneno foi identificado nas amostras
analisadas”, afirmou Corrêa.
Além da Polícia Federal, participaram das análises um instituto de
Portugal e outro da Espanha. Cerca de 700 mil substâncias foram
investigadas durante a análise dos restos mortais, mas os peritos
explicaram que pelo tempo decorrido da morte até a investigação
vestígios dessas substâncias podem ter desaparecido.
O atestado de óbito de Jango diz apenas que ele morreu de uma
“enfermidade”, e a versão oficial indica que ele sofreu um infarto. A
família, porém, acredita que ele pode ter sido alvo de envenenamento no
âmbito da Operação Condor, comandada pelos regimes militares do Cone
Sul, na América do Sul.
Há evidências documentais e depoimentos que indicam que Jango foi
permanentemente monitorado por serviços de inteligência da região. Ele
morreu, aos 57 anos, em 6 de dezembro de 1976 em uma de suas
propriedades no município de Mercedes, na Argentina.
Os restos mortais de Jango, que estavam na cidade gaúcha de São Borja,
sua terra natal, foram exumados para esclarecer suspeitas de que ele
teria sido envenenado.
O ex-presidente foi deposto pelos militares em 1964 no episódio que deu
início ao regime militar (1964-1985) e morreu no exílio, na Argentina,
mas uma autópsia nunca havia sido realizada.
Em novembro do ano passado, a presidente Dilma Rousseff recebeu os
restos mortais de Jango com honras de chefe de Estado durante cerimônia
em Brasília.
“Vamos continuar lutando, temos um laudo que não prova que ele morreu de
causas naturais”, disse o filho de Jango, João Vicente Goulart.
“Esperamos que esse nosso brio de brasileiros não fique amortecido com
esse resultado”, acrescentou.
João Vicente acredita que as investigações do Ministério Público Federal
e das autoridades da Argentina ainda podem comprovar por meio de
documentos que a morte de Jango não foi por uma causa natural.
A ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti, disse que
o laudo “é parte de um processo de exumação não dos restos mortais de
uma pessoa, mas é parte da exumação da história do nosso país”.