Com os três principais candidatos identificados com a direita, o Peru pode ser o próximo país da América Latina a embarcar na onda antigovernos de esquerda que se insinua na região. Os peruanos irão às urnas em abril para decidir quem será o sucessor de Ollanta Humala, um nacionalista de esquerda que migrou para o centro após assumir, em 2011.
Hoje, por conta de acusações de corrupção e pela queda do desempenho econômico do país após a desvalorização das commodities –o Peru é um grande exportador de minérios–, Humala tem apenas 16% de popularidade.
Keiko Fujimori fala a jornalistas sobre as eleições de abril, na qual concorrerá à Presidência
Por enquanto, as pesquisas indicam uma clara liderança da candidata Keiko
Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000), hoje preso após ser condenado por crimes de lesa-humanidade e corrupção durante a sua
gestão.
Segundo pesquisa do instituto Ipsos divulgada na última semana, Keiko está
adiante na preferência do eleitorado, com 33% das intenções de voto, seguida
de longe pelo ex-ministro de economia Pedro Pablo Kuczynski, com 16%, e
pelo empresário Cesar Acuña, com 13% –única cara nova no pleito, que ainda
conta com o ex-presidente Alan García, com apenas 8% dos votos.
Se nenhum dos candidatos atingir 50%, haverá segundo turno, em junho.
"O Peru sempre teve uma esquerda muito fraca, que se debilitou ainda mais
por conta da violência promovida pelo [grupo guerrilheiro] Sendero
Luminoso.
FUJIMORISMO
Em sua segunda eleição como candidata, Keiko Fujimori, 40, apresenta uma
versão mais moderada do fujimorismo. Apesar de se declarar seguidora das
políticas de livre mercado do pai, faz críticas a seu governo sobre os casos de
corrupção e de abusos em direitos humanos.
"É um desafio para ela, pois tem de se distanciar do legado negativo de
Fujimori, mas ainda assim precisa mostrar-se identificada com as coisas que
eleitores creem que ele fez bem, como estabilizar a economia e combater o
Sendero Luminoso", afirma Levitsky.
Segundo as pesquisas, o principal eleitorado do fujimorismo continua sendo
composto por trabalhadores de classe média baixa, urbana e rural.
"É comum que se explique o apoio que o fujimorismo ainda tem entre os mais
pobres por conta de ele ter sido um populista, mas é preciso dizer também
que ele foi um dos poucos presidentes que realmente chegaram aos lugares
mais distantes do país e que, bem ou mal, cumpriram com o que prometeram
levar a eles", diz o analista político David Rivera.
Keiko, que estudou nos Estados Unidos e é casada com um americano, foi a
primeira-dama da gestão Fujimori após o divórcio dos pais, quando tinha
apenas 19 anos. Um de seus feitos que rendem popularidade foi ter
administrado um programa de criação de orfanatos e clínicas pediátricas pelo
país.
Em 2011, Keiko perdeu a eleição num apertado segundo turno para o atual
presidente peruano, Ollanta Humala (51% a 48%).
Entre suas principais promessas de campanha está um grande aporte de
investimentos públicos em obras de infraestrutura como forma de garantir o
retorno do país ao rumo do crescimento.