Discutir se esses dias de folia foram bons ou ruins é bobagem. Ao lado do futebol é ópio do povo, parafraseando Karl Marx. Para o bem e para o mal, o brasileiro não passa sem eles. Só não podemos é achar que sejam o final dos tempos. A volta ao mundo real é agora.
E parece oportuno recordar o que diz a velha canção de Vinicius de Moraes: “acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções...pelas ruas o que se vê é uma gente que nem se vê”. Só que naqueles dias, no entendimento do poeta, havia “promessas de luz”. Será que a luz se fez? Bem, deixa pra lá! O que sei é que hoje, o que há diante de nós é uma profunda e quase completa escuridão. Parece não ter fim.
Qualquer pessoa minimamente responsável sabe que o momento não é propriamente para festas. Ao contrário, o que necessitamos é de um grande mutirão, também ético e moral, para fazer frente à quadra mais crítica da história republicana do Brasil.
Quem aqui chegue e não nos conheça, sequer poderia imaginar que há poucos meses sofremos uma das maiores tragédias ecológicas do planeta sem que providências à altura tenham sido tomadas pelo governo; que o país, às vésperas de sediar o evento máximo do mundo esportivo, é o centro das atenções, ameaçado por uma epidemia de proporções arrasadoras; que há um caos generalizado na área de saúde; que o desemprego atinge índices assustadores; que a inflação saiu do controle; que a corrupção foi institucionalizada; que a nossa maior estatal está falida, assaltada pelos próprios dirigentes; que a economia está paralisada; que a crise política se avoluma a cada dia; e que uma enorme parcela de políticos, incluindo os chefes dos poderes constituídos e um ex-presidente, estão prestando contas à Justiça.
Enfim, nosso país está incapacitado de mover-se por si só, mas, pior, não está parado, pois como um veículo sem freio que tenha sofrido uma pane durante a subida de uma ladeira, desliza célere e sem controle com seus ocupantes olhar fixo para a retaguarda na expectativa do choque inevitável. É assim mesmo, regredimos e vamos continuar regredindo, olhando para trás. Jogamos no lixo tantas e tantas conquistas. Voltamos às piores companhias na comunidade internacional.
A crise é Brasília, tem nome e endereço. Exatamente a das autoridades constituídas, os donos dos Poderes. Só seguiremos adiante quando o povo entender que é condição fundamental uma faxina geral. Eles têm que pagar pelos crimes cometidos.
Para enxergar alguma nesga de luz,voltemos nossos olhares para os lados de Curitiba. Vamos às ruas para apoiar e incentivar a ação da Justiça que vem de lá. Façamos com que contamine a todos.
E uma vez mais repetindo Vinicius, “quem me dera viver pra ver e brincar outros carnavais com a beleza dos velhos carnavais”