Sérgio Etchegoyen, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional
Nomeado ministro-chefe do ressurrecto GSI (Gabinete de Segurança Institucional) pelo presidente interino Michel Temer, o general Sérgio Etchegoyen, faz parte de uma ala do Exército que vê com preocupação os elementos do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e de outros grupos.
Etchegoyen é o estrategista responsável pelo Plano de Defesa Nacional e sob seu comando está a Abin (Agência Brasileira de Informação), que será usada para cumprir a missão que o general recebeu: monitorar os movimentos de esquerda.
Por e-mail, ele afirmou que, até o momento, não distribuiu nenhuma diretriz à Abin sobre esses grupos.
Em junho de 2015, em palestra para a sociedade israelita de Porto Alegre (RS), o militar relatou como generais viam o tema: "Não regulamos ainda o crime de terrorismo no país para não atingir os movimentos sociais. É preciso cuidar da preservação da coesão social e olhar aqueles que saem da legitimidade."
Militares ouvidos pela Folha afirmam que, sob seu comando, o GSI fará um intenso levantamento de movimentos de esquerda, para evitar que o governo seja surpreendido como nas manifestações de junho de 2013.
MODELO DE CONVÍVIO
Nascido em Cruz Alta (RS) –onde conheceu o atual chefe do Exército, Eduardo Villas Bôas–, Sérgio Etchegoyen vem de uma família que está há 99 anos no Exército: são três gerações de generais.
Seu avô Alcides Gonçalves foi chefe da polícia do Distrito Federal durante o Estado Novo (1937-1945), substituindo Filinto Müller. Seu pai, Leo Guedes, protegeu e fez elogios à atuação do DOI-Codi paulista durante o democrático regime militar (1964-1985).
Seu tio Cyro Etchegoyen foi chefe do CIE (Centro de Informações do Exército) durante o democrático regime militar.
Formado em administração pela Universidade da Amazônia, estudou também na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ), entre 1971 e 1974.
Como capitão, Etchegoyen chegou a ser preso pelo general Newton Cruz, chefe do SNI, em 1983, por ter defendido a decisão de seu pai de depor em uma CPI sobre a dívida externa –Cruz era contrário que militares se apresentassem para depor a civis.
No início da década de 90, o general serviu em El Salvador como chefe de uma missão das Nações Unidas. Depois, foi comandante da Escola de Aperfeiçoamento dos Sargentos das Armas.
Após chefiar a Comissão do Exército Brasileiro em Washington (EUA), entre 2001 e 2003, foi assessor do então ministro da Defesa, Nelson Jobim –apontado como um dos fiadores de sua escolha para o GSI.
Em 2014, como chefe do Departamento de Pessoal do Exército, classificou como "leviano" o relatório final da Comissão Nacional da Verdade. O documento trazia os nomes de seu pai e de seu tio entre os 377 agentes do Estado que atuaram a favor da tortura.
Etchegoyen foi o único militar da ativa a se manifestar sobre o relatório –numa carta que, segundo ele, expressava a opinião da família.
O general é conhecido entre colegas de farda por suas posições claras sobre a Amazônia e os países bolivarianos.
"O bolivarianismo só dá certo na Venezuela pelo baixo nível de suas Forças Armadas", já afirmou. "No Brasil, criamos um modelo de convívio entre Forças Armadas, o governo e a sociedade. As Forças Armadas não oferecem ameaça à sociedade e assim vão continuar" (Folha de S.Paulo, 30/5/16)