quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Diário do Olavo: hegemonia, guerra cultural e a pequenez mental da direita

(Seleção e organização: Edson Camargo, editor-executivo do MSM)

Com Dilma ou sem Dilma, com Lula ou sem Lula, com PT ou sem PT, a hegemonia cultural da esquerda, tal como a descrevi em artigos escritos desde 1993, continua em vigor, inalterada e inabalável.


Como é possível?


Esse é um dos pontos que vou abordar no meu curso “Guerra Cultural: História e Estratégia”. 

Aguardem.

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Para quem ainda não entendeu: Neste país a esquerda É o establishment, e o establishment É “as nossas instituições”. Não será um inquérito aqui, um impeachment ali, que há de derrubá-lo. Só uma revolução pode fazer isso. Em março de 2015, a revolução estava nas ruas. Aí vieram uns menininhos bonitinhos e pediram que ela ficasse esperando até que eles fossem e voltassem de Brasília a pé. O momento dela passou. Os políticos sorriram aliviados. Foi isso o que aconteceu.

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Vocês acham mesmo que a esquerda nacional vai apostar o futuro dela na volta da Dilma ou na sobrevivência política do Lula? Não vai apostar um tostão, uma migalha, um peido de formiga. Vai usurpar a liderança da “luta contra a corrupção”, jogar para escanteio os conservadores que não possa destruir diretamente, e deixar no cenário tão somente a direita boazinha, servil, que vota em Jean Uiui para não ter de votar no Bolsonaro.


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A opção pelo puro impeachment em vez da cassação dos mandatos está produzindo o único resultado que poderia produzir: o desmantelamento da direita nacional. Isso não apenas era previsível, como foi de fato previsto em tempo.

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Se os militares quisessem mesmo mudar o curso das coisas neste país, não precisariam dar golpe nenhum: bastaria que usassem as informações que JÁ têm para destruir as carreiras de uns mil políticos. Mas a coisa que milico mais adora é coletar informação para escondê-la tão

bem que depois nem mesmo ele próprio se lembra dela.


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Até o fim dos anos 30 do século XX, nenhum analista político sério, na Europa ou nos EUA, ignorava que os regimes de Mussolini na Itália e de Hitler na Alemanha eram SOCIALISTAS, não só no nome mas na substância da sua política econômica e da sua concepção do Estado. Era sob esse título que os abordavam, por exemplo, Friedrich Hayek e Ludwig von Mises, acompanhados por toda a escola austríaca de economia. Só o ano de 1934 viu surgirem dois livros de grande sucesso a respeito: “Socialisme Fasciste”, de Drieu la Rochelle, e “Deutscher Sozialismus”, de Werner Sombart”, o primeiro uma apologia, o segundo uma análise econômica — o que já basta para ilustrar a unanimidade com que o termo era aceito como obviedade, sem contestação. Foi só com a entrada da URSS na guerra que a propaganda soviética, com milhões de agentes espalhados pelo mundo, começou a higienizar retroativamente a palavra “socialismo” mediante a teoria maluca de que o nazifascismo era um regime a serviço do “grande capital”, idiotice que até hoje é ensinada nas nossas universidades como se fosse a coisa mais científica do mundo. O que o nazifascismo fez com o grande capital, em vez de servi-lo, foi escravizá-lo, chantageá-lo e usá-lo para seus próprios fins, exatamente como o PT fez no Brasil. O Marcelo Odebrecht que o diga.


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Léxico político brasileiro: Quando um petista diz “direita”, ele se refere à direita da esquerda, ao PSDB. Nos demais casos ele diz “extrema direita”.

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Não estranhem NENHUMA cachorrada que venha da Editora Abril: Os irmãos Civita, por meio da fundação que leva o nome do seu pai, têm a glória de haver estado entre os maiores destruidores da educação nacional. Medido as coisas na escala das décadas, não consigo imaginar malefício pior do que esse que se pudesse fazer a um país.

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Não é só a História, com maiúscula, que tem ironias. Também as tém a história miúda das patifarias: Os Civitas começaram fazendo fortuna com os produtos de um notório anticomunista — Walt Disney — e, assim que se viram com os bolsos cheios de dinheiro, se tornaram glorificadores de comunistas.

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A abertura das Olimpíadas mostrou, acima de qualquer possibilidade de dúvida, que os comunistas ainda controlam este país, e com dinheiro extorquido do povo. Botar a Dilma na rua e o Lula na cadeia não vai mudar NADA na estrutura do poder. NADA, ZERO, PICAS, PORRA NENHUMA.

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O punho esquerdo fechado — o símbolo máximo do comunismo internacional — valeu por um murro na cara de todos os brasileiros que saíram às ruas para protestar desde março de 2015. Mas esse povo já está tão sonso, todo embevecido de ter “tirado a Dilma”, que nem sentiu a porrada.

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A magnitude do perigo que cerca o nosso país contrasta de maneira patética com a pequenez mental da “direita” nacional.

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Na esquerda, os melhores são cafajestes, drogados e trombadinhas. Os piores são polidos e escorregadios como demônios.

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Cassar o registro do PT, a esta altura, já não servirá para mais nada se não forem cassados também, em caráter vitalício, os direitos políticos de TODOS os seus dirigentes.

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Parece ser IMPOSSÍVEL fazer os nossos liberais e conservadores entenderem que os efeitos sociais,econômicos, políticos e psicológicos de uma revolução cultural só podem ser neutralizados por uma revolução igual e contrária, a qual custará tanto tempo e esforço quanto a primeira custou.

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Neste país, a direita é infinitamente mais culpada de indolência intelectual, de carreirismo e de imedatismo praticista do que a esquerda. Um militante esquerdista consente em passar décadas no trabalho humilde e anônimo da militância, mas cada liberal ou conservador se sente traído pelo destino se em recompensa do seu assanhamento patriótico juvenil não ganhar logo,pelo menos, uma cadeira de vereador.

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A força da militância anônima, espalhada por toda a sociedade, jamais poderá ser vencida por vereadores, deputados e senadores. Só por outra militância anônima.

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Confúcio ensinava que o sábio corrige primeiro a si próprio, depois à sua família, depois à sua rua, ao seu bairro, à sua cidade e ao seu país. No Brasil todo mundo está tão empenhado em corrigir o país que jamais chegará a ter tempo de começar a corrigir-se a si próprio.

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No Brasil o óbvio é obsceno.

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Ao noticiar que o líder dos Sem-Teto era o chefe do narcotráfico, a turma da direita só enxerga nisso um escândalo, e não uma prova patente da profundidade da penetração da militância esquerdista em todos os setores da sociedade. O moralismo enfezado é o último refúgio do analfabeto político.

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Os direitistas neste país não são capazes de dominar SEQUER uma quadrilha de narcotraficantes, quanto mais um sindicato, uma escola, uma igreja, um jornal etc.

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Prenderam o Lula? Grande merda. Começarei a soltar rojões quando me contarem que dominaram uma redação de jornal.

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Sinto-me consternado quando o pessoal da direita brasileira vem aos EUA esperando obter orientação dos ‘think tanks” conservadores americanos. Com exceção dos estudos quantitativos do Brent Bozell III sobre a hegemonia esquerdista na mídia, de alguns livros de memórias sobre o movimento comunista americano, da argumentação de praxe pró-economia liberal e de muito material traduzido do russo que circula por aqui, o conservadorismo americano não tem NADA a ensinar. Está atrasado de décadas. Por exemplo, a influência da KGB no show business mudou radicalmente o panorama mental americano, exercendo até mesmo uma influência decisiva no desenlace da guerra do Vietnam, e ATÉ HOJE não há nenhum estudo quantitativo que possa dar uma medida da extensão dessa influência. Em compensação, há milhares de livros sobre a atuação da CIA na guerra cultural, uma miserinha em comparação com a da KGB.

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Há muitas décadas todo político brasileiro convocado pelo curso das coisas a tornar-se um herói nacional acaba preferindo ser um boboca bem remunerado. Fernando Collor, Itamar Franco, Ciro Gomes, algumas dúzias de generais e, no fim das contas, o próprio Lula — sem mencionar a meninada da “Marcha Para Brasília” — são exemplos mais que didáticos.

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Por exemplo: Quantos atentados terroristas foram cometidos por milícias conservadoras nos EUA? Nenhum. Quantos filmes Hollywood já fez sobre atentados terroristas cometidos por milícias conservadoras? Milhares.
Quantos golpes militares a direita deu nos EUA? Nenhum. Quantos filmes sobre golpes militares direitistas Hollywood já fez? Milhares.

Até hoje você não encontra documentação científica a respeito dessas coisas.

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David Horowitz é uma enciclopédia viva da historia da esquerda americana. Sem ele, a história dos últimos 50 anos seria incompreensível.

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Quase tudo o que se publica nos EUA sobre guerra cultural enfoca o assunto na escala da pura disputa bipartidária. Dá a impressão de que tudo começa e termina dentro do território americano. Os protagonistas máximos da guerra cultural — a KGB, o movimento comunista internacional e a intelectualidade européia — são jogados para um discreto segundo plano ou acabam por desaparecer completamente. Quanto mais vasta e desenvolvida é uma cultura, mais ela tende a se fechar num provincianismo que se satisfaz em alimentar-se de si próprio.

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Todo mundo já esqueceu o episódio Neimar de Barros — o sujeito que foi infiltrado na Igreja Católica por um grupo político, para se tornar o pregador católico de maior sucesso e, quando estava no auge da fama, estourar tudo com um tremendo escândalo. Mais tarde ele confessou tudo. Coisas desse tipo acontecem todos os dias, mas até hoje há quem pense que tudo não passa de “teoria da conspiração”.

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Quantos editores, neste país, não colhem nas minhas aulas e artigos — quando não em minhas sugestões diretas — os títulos que devem publicar, no meu círculo de colaboradores as pessoas aptas a traduzi-los, no meu público os consumidores de que necessitam, tudo isso só para depois dizerem que nada me devem e que sempre “pensaram com os próprios miolos”?

Carrapatos vivem de chupar o seu sangue e depois mandar você para o beleléu.

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Por mais que os marxistas esperneiem, protestem e busquem toda sorte de escapatórias e subterfúgios, não há meio de fugir à conclusão de que, segundo Marx, o único significado de uma obra de arte, de uma pregação religiosa, de uma investigação científica ou de qualquer idéia que seja reside no dinheiro que a financia. Eles negam essa conclusão para não parecer tão idiotas quanto o são, mas acabam sempre raciocinando com base nela. A canalhada intelectual carioca que leu “O Imbecil Coletivo” não foi muito incoerente ao imaginar que, como eu na época trabalhava na Faculdade da Cidade, que publicou o livro, o cérebro que ditava as palavras do autor era o do Dr. Ronald Levinsohn.

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Eu não poderia jamais ser um filósofo universitário. Não há praticamente debate universitário de filosofia que não me pareça errado desde a base, porque não parte da “presença total” e sim da divisão universitária das disciplinas. E estou falando das universidades sérias.

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Não sou do contra. O mundo dos bem-pensantes é que é contra o óbvio.

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