Noé de Oliveira Ramos, 26/06/1968, comerciário
Onze
Ao contrário do que muitos supõem, nem todos os estudantes que viveram na década de 1960 eram contrários ao governo que começou em 31/03/1964.
Imagem da época mostra os terroristas comunistas da época
No final da tarde de 27/06/1968 um grupo de estudantes se reuniu no Largo São Francisco, em São Paulo, para distribuírem panfletos a favor do governo e contra os atos terroristas que ocorriam no Brasil. Este local era ponto de encontro tradicional de manifestações em São Paulo. Não era sem motivo o protesto estudantil: mais cedo, naquele mesmo dia, terroristas armados de metralhadoras assaltaram a Pedreira Fortaleza no Km 15 da Rodovia Raposo Tavares, e roubaram 480 quilos de dinamite e 200 espoletas.
Passando na rua e observando o movimento estava Noé de Oliveira Ramos, comerciário, que nada tinha a ver nem com o movimento estudantil e nem com os grupos radicais de esquerda. Era apenas mais um rosto na multidão de passantes. Jessé Barbosa da Silva, militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) estava infiltrado na passeata que até então se desenvolvia de forma ordeira. A idéia era provocar hostilidades. Começou a chamar os estudantes de “traidores” e iniciou um pequeno comício para uma dezena de operários que estava por ali.
Os estudantes não aceitaram a atitude de Jessé e resolveram expulsá-lo da manifestação. Houve discussão entre os estudantes e Jessé, que sacou uma arma e fugiu atirando. Uma das balas acabou encontrando o coração de Noé de Oliveira Ramos, que morreu na hora. Olavo Siqueira, engraxate, também foi ferido pela arma do atirador. Jessé, ou “Julião” como era conhecido, foi perseguido por populares e pela polícia e preso em flagrante delito na Praça da Bandeira, a 300 metros do local do crime. Após sua prisão, a polícia encontrou farto material na sua casa, que incluía planos detalhados para o início de uma revolução que deveria eclodir em 01/01/1969. Na documentação, havia os planos para tomar a Delegacia de Polícia de Maringá – PR.
Noé (Noel) de Oliveira Ramos era comercário. Morreu vítima de um tiro em 26/06/1968. Os jornais da época não divulgaram outras informações sobre a vítima.
Autoria: Jessé Barbosa da Silva, integrante da Vanguarda Popular Revolucionária.
Fontes: Diário de Notícias, edição 14056, página não identificada; Correio da Manhã, edição 23074 de 30/06/1968, 1º caderno, página 24; Diário do Paraná, edição 03887 de 29/06/1968, 1º caderno, página 3; Jornal do Brasil, edição 00067 de 27/06/1968, 1º caderno, página 21.
Esclarecimento do autor: este artigo integra uma série intitulada “Os Mortos Que o Brasil Não Chora” e é resultado de minuciosa pesquisa em jornais, revistas e periódicos publicados na época em que os fatos aconteceram. São aproximadamente 120 vítimas. Alguns eram integrantes de Forças de Segurança, outros civis – alguns sem qualquer conexão com um ou outro lado – e os demais eram membros da esquerda que foram “justiçados” (executados) por seus próprios companheiros. A cada publicação contarei a história de um episódio ou de uma vítima. Procurei obedecer a ordem cronológica dos acontecimentos. Todos os artigos já publicados estão disponíveis na página pessoal do autor no Facebook (
https://www.facebook.com/robson.meroladecampos).