O presidente Michel Temer escolheu o ex-motorista do terrorista Mariguella o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), líder do governo no Senado, como novo ministro das Relações Exteriores, informou o porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, nesta quinta-feira.
Aloysio Nunes vai substituir o também tucano José Serra, que renunciou ao cargo na semana passada, por motivos de saúde.
"Homem público de larga experiência política, seja no Legislativo, seja no Executivo, o senador Aloysio Nunes Ferreira tem uma longa trajetória de engajamento nas causas da diplomacia brasileira e na agenda internacional do Brasil", afirmou Parola em rápido briefing a jornalistas.
A ida de Aloysio Nunes para o Itamaraty vai acarretar em nova mudança na liderança do governo no Congresso. No final da semana passada, Temer substituiu André Moura (PSC-SE) por Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) como líder do governo na Câmara, além de criar o cargo de líder da maioria na Casa, entregue ao peemedebista Lelo Coimbra (ES).
Na quarta-feira, fontes do Palácio do Planalto haviam dito à Reuters que o senador tucano era o nome mais provável para o cargo, contra outras possibilidades apresentadas pelo PSDB, como o embaixador em Washington, Sérgio Amaral, uma opção mais técnica.
A decisão de quem seria o novo chanceler foi praticamente entregue pelo governo ao PSDB. Desde o anúncio da saída de Serra, o partido deixou claro que pretendia manter seu espaço no governo, e indicou três nomes. Além de Aloysio e Amaral, o do senador mineiro Antonio Anastasia, que não se interessou.
Na véspera do anúncio, uma fonte palaciana confirmou à Reuters que dependia apenas do partido a confirmação do nome de Aloysio, e do interesse do próprio senador, que no princípio chegara a afirmar que não queria
"O governo tem que deixar a base feliz", justificou a fonte. O PSDB disputa palmo a palmo a influência no governo com o PMDB, partido de Temer. Ganhou a Secretaria de Governo, com o deputado Antonio Imbassahy, e tentou emplacar um nome no lugar de Alexandre de Moraes no Ministério da Justiça --nesse caso, perdeu para a ameaça de rebelião do PMDB na Câmara.
A posse de Aloysio Nunes no comando do Itamaraty ocorrerá na próxima terça-feira, conjuntamente com a posse do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) no Ministério da Justiça.
Deputado estadual em dois mandatos e federal em três oportunidades, Aloysio Nunes foi vice-governador de São Paulo durante o governo de Luiz Antônio Fleury Filho, do PMDB, partido ao qual era filiado.
Foi ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República e também comandou o Ministério da Justiça, durante o segundo governo do tucano Fernando Henrique Cardoso.
Conquistou uma das duas vagas paulistas ao Senado em disputa em 2010 graças a uma arrancada impressionante nos últimos dias de campanha, após o ex-governador paulista Orestes Quércia, aliado do tucano, abrir mão de sua candidatura por problemas de saúde.
Em 2014 foi candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), derrotada pela então presidente Dilma Rousseff (PT), que tinha como vice Temer.
Foi presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, quando aproveitou o cargo para fazer críticas duras e repetidas à política externa do governo de Dilma Rousseff e sua relação com os países da América do Sul classificados como "bolivarianos".
Aloysio, como presidente da CRE, foi um dos parlamentares brasileiros que foram a Caracas, em junho de 2015, tentar visitar presos políticos venezuelanos. A comitiva mal conseguiu sair do aeroporto, e os parlamentares brasileiros acusaram o Itamaraty de não fornecer proteção aos viajantes.
Itamaraty vê novo chanceler como melhor escolha, mas ainda sob desconfiança
Decepcionados com a performance de José Serra à frente do Itamaraty, diplomatas brasileiros viram com alguma desconfiança a nomeação de Aloysio Nunes Ferreira como novo chanceler, mas admitem que, entre as opções aventadas, o nome do senador era o menos ruim, disseram à Reuters fontes diplomáticas.
Com um dos menores orçamentos da Esplanada e enormes dificuldades de encontrar um espaço político nos governos de Dilma Rousseff, o Itamaraty viu a nomeação de um político para comandar o ministério como uma chance de voltar a ter importância na Esplanada dos Ministérios. No entanto, o resultado dos nove meses de José Serra no Itamaraty foi, de acordo com uma das fontes, "decepcionante".
A avaliação é que o senador desistiu do Itamaraty com pouco mais de dois meses no cargo. "Serra prometeu muito e não entregou nada. Então o pessoal está com pé atrás. 'Será que Aloysio vai ser diferente?' é o que mais se ouve", disse uma das fontes.
Ainda assim, as expectativas são boas, diz outra fonte, considerando as opções que estavam sendo aventadas. Apesar de ser diplomata de carreira aposentado, Sérgio Amaral, hoje embaixador do Brasil em Washington, não era bem visto como uma alternativa.
O nome de Amaral foi um dos apresentados pelo PSDB para substituir Serra, mas a preferência era por Aloysio --o embaixador seria uma alternativa caso o senador, que a princípio resistiu, não aceitasse o cargo.
Para uma boa parte dos diplomatas, Amaral seria a pior escolha, já que nos poucos meses desde o início do governo o embaixador se indispôs com muita gente no ministério.
Ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores, autor da nova Lei de Migração que tramita no Congresso, Aloysio é visto como mais dinâmico e mais interessado em política externa, o que pode tirar o Itamaraty do marasmo recente.
De acordo com uma das fontes, áreas inteiras do Itamaraty estavam paradas, sem orientação, por falta de interesse do ex-chanceler.
Além disso, segundo um diplomata de alto escalão, Serra deixa o ministério com problemas criados com uma parte considerável dos vizinhos sul-americanos --em especial Bolívia, Equador e Uruguai, sem contar a Venezuela, considerada quase um caso perdido.
Caberá ao novo chanceler tentar aparar arestas e recuperar a liderança do Brasil na região.
A tarefa, no entanto, pode não ser simples. Aloysio Nunes é famoso por não medir palavras, especialmente aos vizinhos considerados bolivarianos. Já fez duras críticas à Venezuela e chegou a chamar o novo presidente norte-americano, Donald Trump, de "o que há de pior entre os republicanos".