Presidente quer dar um fuzil a cada um; em Brasília, oposição denuncia golpe
Membros da milícia Bolivariana em ato com Maduro, em Caracas, Venezuela
BUENOS AIRES - Em meio a denúncias da oposição, do secretário geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, e de ONGs de defesa dos direitos humanos apontando tortura de opositores, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, defendeu a necessidade de ampliar a Milícia Nacional Bolivariana para meio milhão de integrantes e reforçar seu armamento. Em discurso em cadeia nacional, o chefe de Estado assegurou que “a Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) deve garantir um fuzil a cada miliciano”.
— Aprovei os planos para ampliar a 500 mil o número de milicianos... O mais rápido possível estaremos treinando um milhão de milicianos armados para preservar a soberania da Pátria — declarou o presidente, que também acusou a oposição de ser responsável pelo ataque à sede do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), em 8 de abril passado.
As palavras de Maduro preocuparam ONGs como a Foro Penal, que entre os dias 4 e 16 deste mês contabilizou 538 detenções de pessoas que participaram de marchas contra o governo, além de seis mortes.
— Vemos um governo que está acobertando a violência de grupos civis e, assim, se tornando cúmplice da repressão — disse ao GLOBO o advogado Alfredo Romero, diretor da Foro Penal. — Hoje, a violência parte da Fanb, da Polícia Nacional Bolivariana, dos chamados coletivos e das milícias que agora Maduro vai reformar dando mais fuzis.
A oposição está organizando uma grande manifestação para quarta-feira, enquanto continua denunciando o governo Maduro em organismos internacionais e reuniões com autoridades da região. Ontem, o deputado da Mesa de Unidade Democrática (MUD) Luis Florido e o dirigente do partido Vontade Popular (VP) Carlos Vecchio foram recebidos no Itamaraty, em Brasília, onde reiteraram que o governo Maduro “deu um golpe de Estado que continua vigente”.
Em Caracas, o deputado Tomás Guanipa convocou uma coletiva para reforçar as denúncias de tortura sofridas pelos dirigentes José Sánchez e Alejandro Sánchez. Segundo ele, a MUD está recolhendo informações sobre funcionários do Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência) que “aplicam torturas” para fazer uma denúncia formal.
— Não temos outra alternativa a não ser marchar, pacificamente — frisou o deputado.
Além de militantes da oposição, também foram presos jornalistas estrangeiros nos últimos dias. Um dos casos de mais destaque é o de dois enviados especiais da agência francesa Capa, um dos quais tem cidadania uruguaia. Nesta segunda-feira, a oposição uruguaia exigiu ao governo do presidente Tabaré Vázquez que interceda para conseguir a liberação de Sebastián Pérez, que junto com outro colega da agência francesa foi detido por agentes do Sebin há uma semana, no aeroporto internacional Simón Bolívar.