Fernando de Haro produziu 6 filmes e 4 livros para documentar o genocídio de cristãos em diferentes partes do mundo
Igreja Perseguida no Iraque
O jornalista e escritor espanhol Fernando de Haro já produziu seis filmes e quatro livros para documentar o genocídio de cristãos em diferentes partes do mundo. Ele mostra, por exemplo, dados de um levantamento recente, que calcula em cerca de 150.000 adeptos do cristianismo mortos por causa de sua fé todo ano.
Haro visitou comunidades cristãs em lugares tão diversos como China, Índia, Nigéria, Síria, Paquistão, Egito e Líbano. Acompanhando de sua equipe, registrou testemunhos de sobreviventes da perseguições e massacres que a grande mídia se abstém de relatar.
Convertido em pesquisador do tema, adotou um estilo que alia narrativa jornalística e reflexão política. O espanhol, que é católico, explica que o termo “genocídio” é evitado pela mídia, por ser algo muito pulverizado e não reunir todas as condições estabelecidas pela Convenção da ONU que definiu o uso do termo.
Mesmo assim, em 2016, o Parlamento Europeu e os Estados Unidos descreveram como ‘genocídio’ o extermínio da minoria yazidi no Iraque, enquanto a ONU se recusou a fazer o mesmo com os cristãos, apesar de eles estarem morrendo nas mesmas condições.
“Em um sentido amplo, não apenas legal, vemos quantitativamente a maior perseguição religiosa de toda a história, embora não possamos fazer um levantamento exato do número de vítimas”, destaca o pesquisador. Fernando de Haro lembra que em regiões da Nigéria há tantos mortos enterrados em valas coletivas que ninguém consegue contar as vítimas do grupo terrorista islâmico Boko Haram. Situação similar ocorreu na Síria e no Iraque, depois que o Estado Islâmico foi derrotado.
Mártires Modernos
Ele não tem problema em usar o termo “mártir moderno” para definir a maioria dos casos que registrou. “Mártir é alguém que perde sua vida porque não renunciou à sua fé”, lembra. “Eu conheci filhos que contam como seus pais morreram nas mãos do Estado Islâmico. Os jihadistas colocavam uma arma na cabeça de seus pais e eles morreram por recusarem-se a abraçar a fé muçulmana”, destaca.
Como afirma em um de seus livros, “o século 21 é o século do martírio do cristianismo, porque em muitos lugares o cristianismo é uma nova religião”. Sendo europeu, Haro admite que “em nossas sociedades é difícil entender que alguém está disposto a perder a vida por não querer renuncia a uma crença. Porém, em muitos lugares [do mundo] o cristianismo não é uma tradição, não um legado intelectual ou um conjunto de regras, é uma experiência de verdadeira libertação”.
Este é o caso dos “dalits”, membros da casta mais baixa na Índia, que são vistos como a reencarnação de um erro do passado. Quando eles se convertem, começam a ver, pela primeira vez na vida, que são pessoas merecedoras de dignidade e respeito, aponta o espanhol.
Jihadismo e ideologia
Em seu ponto de vista, o Ocidente não presta atenção o suficiente no que ocorre nos lugares onde os muçulmanos massacram os cristãos porque simplesmente não entendem o que se passa. “Falam que estamos em uma guerra de religiões, mas isso é um grande erro. As hipóteses abstratas como ‘choque de civilizações’ nascem de intelectuais sentados em um observatório social qualquer em uma cidade como Washington”, aponta. Até porque, em muitos lugares, como China e Coreia do Norte, as motivações da perseguição são maiormente políticas, pois os cristãos não aceitam se curvar ao sistema ideológico vigente.
“Com todo o respeito a esses intelectuais, o contato com a realidade muda um pouco o prisma. O jihadismo é produto de uma guerra interna dentro do Islã, onde há uma interpretação ideológica que visa levar o Islã a um tipo de niilismo destrutivo. O Califado criado entre a Síria e do Iraque em 2014 foi financiado com dinheiro da Arábia Saudita e do Catar… numa tentativa de responder ao choque do Islã com a modernidade através de uma ideologia neo-islâmica. Essa não é só uma guerra religiosa entre o cristianismo e o islamismo. É o resultado da sedução pelo niilismo que tem os cristãos como vítimas… Esse é o grave erro de compreensão que cometemos”, conclui.
Adaptado da entrevista original para o
El Mundo