Delegação planeja reunir-se com o presidente Jair Bolsonaro, em janeiro, após sua posse.
Visão geral de uma reunião dos ministros das Relações Exteriores da Liga Árabe na sede da organização na capital egípcia, Cairo, em 11 de setembro de 2018. (Foto: Mohamed El-Shahed/AFP)
Uma delegação ministerial árabe planeja viajar ao Brasil em janeiro para tentar convencer o presidente Jair Bolsonaro a não transferir a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, disse uma fonte oficial palestina ao jornal The Times of Israel na quinta-feira (27).
No início deste mês, a Liga Árabe convocou uma reunião para discutir a possível realocação da embaixada brasileira em Israel.
Em um comunicado após a reunião, a Liga Árabe pediu a “Bolsonaro que se abstenha de tomar quaisquer posições que prejudiquem o status legal da Cidade Santa de Jerusalém”.
Em novembro, Bolsonaro anunciou que pretende transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém. “Como dito anteriormente durante nossa campanha, pretendemos transferir a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém”, escreveu Bolsonaro no Twitter em 1º de novembro. “Israel é um Estado soberano e nós devemos respeitar isso”.
Em viagem aos Estados Unidos, o filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, confirmou a informação durante entrevista ao canal de TV Fox News que a embaixada seria realocada, mas que o prazo para a decisão não foi definido.
Brasil e Israel
Jair Bolsonaro toma posse em seu novo cargo no dia 1º de janeiro com a presença de diversos líderes mundiais, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que já está no país, onde deverá se reunir com o futuro presidente nesta sexta-feira (28).
A visita de Netanyahu ao Brasil pode ser entendida como um agradecimento a Bolsonaro pela decisão que pretende tomar. O governo israelense considera toda Jerusalém sua capital e encorajou os países a realocarem suas embaixadas para lá. Enquanto isso, os palestinos buscam Jerusalém Oriental como a capital de um futuro estado palestino.
Em declaração recente Bolsonaro disse que se opõe à existência da embaixada palestina em Brasília, de acordo com a Agência Telegráfica Judaica.
Brasil e EUA
Em dezembro de 2017, o presidente dos EUA, Donald Trump, reconheceu Jerusalém como a capital de Israel, irritando a liderança palestina baseada em Ramallah. A embaixada dos EUA foi transferida para Jerusalém em maio de 2018.
Durante sua campanha presidencial, Jair Bolsonaro, influenciado pela decisão americana disse que tomaria decisão semelhante. O candidato recebeu apoio interno da bancada evangélica que compõe o Congresso Nacional e de lideranças evangélicas que defendem e acreditam que Jerusalém é, desde os tempos bíblicos, a capital de Israel.
A decisão americana for marcada por protestos no mundo árabe. Pouco depois do anúncio de Trump, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, declarou que os palestinos não vão mais trabalhar com um processo de paz dominado pelos americanos e pediu o estabelecimento de um mecanismo multilateral para isso.
Em novembro, durante reunião da Organização das Nações Unidas, o embaixador palestino na ONU, Ibrahim Khraishi, disse em entrevista apostar que a mudança não vai ocorrer.
Na ocasião, autoridades palestinas disseram esperar que o presidente eleito tenha “sabedoria” ao tomar sua decisão sobre o futuro da embaixada do Brasil em Israel.
Em função da mudança da capital pelos americanos, no ano passado os palestinos cortaram seus laços com o governo de Donald Trump, exceto aqueles relacionados à segurança, disse Azzam al-Ahmad, um alto funcionário da Fatah e da OLP, em uma entrevista em seu escritório em Ramallah, no começo de dezembro.
Autoridades palestinas dizem que o Brasil e os palestinos mantêm relações sólidas. Em 2010, durante o governo de Luis Inácio Lula da Silva, o Brasil reconheceu oficialmente o Estado da Palestina.