
Ordem veio da presidente interina, Jeanine Áñez, nesta segunda-feira
Presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez Foto: EFE/Rodrigo Sura
A presidente interina da Bolívia Jeanine Áñez ordenou, nesta segunda-feira (30), que a embaixadora do México, María Teresa Mercado, e outros funcionários do governo espanhol deixassem o país em 72 horas.
– O governo constitucional que presido decidiu declarar ‘persona non grata’ a embaixadora do México na Bolívia, María Teresa Mercado, a encarregada de negócios da Espanha na Bolívia, Cristina Borreguero, o cônsul Álvaro Fernández, e um grupo de supostos diplomatas encapuzados e armados – disse Áñez, em uma declaração à imprensa.
A presidente acusou os diplomatas de “ferir gravemente a soberania e a dignidade do povo e do governo constitucional da Bolívia”. A chanceler do governo boliviano Karen Longaric afirmou que a expulsão dos diplomatas não implica em uma ruptura de relações diplomáticas entre os países, segundo o jornal boliviano El Deber.
O ministro das Relações Exteriores do México afirmou que se trata de uma decisão de caráter político e instruiu sua embaixadora à retornar ao México para garantir a sua segurança.
Segundo o governo boliviano, a encarregada de negócios e o cônsul espanhóis chegaram à embaixada mexicana em La Paz na última sexta-feira, juntamente com agentes de segurança “encapuzados e supostamente armados”, com a intenção de retirar do país o ex-ministro Juan Ramón Quintana, um dos principais auxiliares do ex-presidente Evo Morales.
A Bolívia já havia enviado uma nota de “protesto enérgico” à Espanha, no sábado. Madri, porém, negou que a visita fosse “facilitar a partida” de um membro do governo de Morales.
A Espanha também informou que enviará uma missão à Bolívia para investigar a decisão de La Paz de não fornecer salvos-condutos para as pessoas asiladas na embaixada mexicana. Áñez afirma que existem pedidos de apreensão e investigação relacionados a elas.
Depois da renúncia de Evo Morales à Presidência boliviana em 10 de novembro, a embaixada mexicana deu asilo a um grupo de funcionários e pessoas próximas ao ex-presidente, tendo sido muitas delas acusadas pelo governo interino de cometer crimes como sedição e revolta armada.
O governo mexicano havia se recusado a entregar o grupo antes que ele recebesse um salvo-conduto para sair do país.
A embaixada, então, afirmou que estava sofrendo “intimidação e amedrontamento” por uma “excessiva” presença de serviços de inteligência e de segurança bolivianos no local. O México chegou a anunciar que iria recorrer à Corte Internacional de Justiça (CIJ), que tem sede em Haia, na Holanda.
O governo boliviano respondeu dizendo que existiam ameaças de ataques contra a embaixada. As relações entre Bolívia e México deterioraram-se desde que o governo do mexicano Andrés Manuel López Obrador decidiu conceder asilo a Evo Morales e seus familiares.
Evo renunciou à Presidência da Bolívia após pressão das Forças Armadas e protestos intensos nas grandes cidades do país. Embates aconteceram depois das controversas eleições presidenciais de 20 de outubro no país, que deram vitória (e o quarto mandato) a Evo Morales.
O pleito, marcado por idas e vindas e acusações de fraude, foi contestado pela oposição e, depois de uma auditoria, também pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, que pediu sua anulação.
No início de dezembro, quase 45 dias depois da eleição, a OEA concluiu que houve “ações deliberadas para manipular os resultados das eleições na Bolívia”, incluindo alteração e queima de atas de votação e falsificação de assinaturas.
O ex-presidente boliviano está agora exilado na Argentina, país que negou pedidos de extraditar tanto Evo quanto seus filhos, que hoje vivem em Buenos Aires.
*Folhapress