Por Ricardo Vélez-Rodríguez
A Comissão da Verdade
cumpriu com o seu cometido de Omissão da Verdade. Poderia ter ficado
muda, teria sido melhor para o Brasil e para o respeito devido à
inteligência dos brasileiros. Mas petralha é petralha. Caminha em linha
reta rumo ao abismo, como escrevia Tocqueville dos revolucionários, nas
suas Memórias de 1848. Napoleão dizia: “Arranhai um russo, encontrareis
um tártaro”. Fosse vivo o grande general francês, diria hoje, no Brasil:
“Arranhai um petralha, encontrareis um comunista”.
O que é lamentável é que, pela ignorância de muitos eleitores, pelas
inúmeras bolsas que os governos foram criando ao longo destes doze anos
(junto com o anúncio, utilizando os canais oficiais, de que os pobres
veriam cortados estes benefícios caso a oposição ganhasse), pelo
aparelhamento do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal
Eleitoral pelos petralhas, pelos desvios de bilhões de reais dos cofres
públicos para financiar a caixa do Partido, estes ganharam as eleições
“no tapetão”, ou “fazendo o diabo” como gostam de dizer Dilma e o seu
Ministro Chefe da Casa Civil, Gilberto Carvalho. Pior para o Brasil.
Ruim para todos nós.
A mais recente pérola neste período pós-eleitoral (num clima de fim
de festa, com a casa absolutamente desarrumada e a economia em
bancarrota) foi o informe da dita “Comissão da Verdade”. Não repetirei
aqui o teor das esdrúxulas conclusões apresentadas pelos membros da dita
cuja, todos eles alinhados com a petralhada. Referir-me-ei ao espírito
que anima tanto esse quanto os documentos anteriores produzidos pelos
membros da tal Comissão.
O pano de fundo que os animou é o de reescrever a história. O
objetivo inicial assinalado à Comissão consistia em rever as
transgressões aos direitos humanos ocorridas no longo período 1946-1985.
As conclusões da Comissão centraram-se, no entanto, num período menor,
exatamente o correspondente ao regime militar (1964-1985). Era clara a
finalidade da Comissão: mais uma vez tentar desmoralizar os nossos
militares que, no contexto da Guerra Fria, ganharam o combate contra os
comunistas. Não tivessem as Forças Armadas combatido com denodo, como
era seu dever, os comunistas que tentavam implantar no Brasil a Ditadura
do Proletariado, teríamos mergulhado simplesmente na guerra civil, de
forma semelhante a como países vizinhos viram se ensanguentar os seus
territórios pela ação criminosa dos comunistas.
Comunista não gosta de perder. Na Colômbia, onde nasci, muitos jovens
morreram na opção errada de tentar combater as instituições
republicanas pela luta armada. Tanto no meu país de nascença quanto em
outros países da América Latina, inúmeros jovens sacrificaram-se nessa
opção louca, sob a miragem do revolucionário Che Guevara. Eu mesmo me
radicalizei e, no meu país, sofri as consequências por isso. Vários dos
meus amigos que militaram nas fileiras da guerrilha foram mortos pelas
Forças Armadas colombianas. Nunca, no entanto, passou pela minha cabeça
cobrar dos colombianos “bolsa guerrilha” como muitos ex-militantes
fizeram no Brasil. Achei isso, sempre, falta de caráter. Se lutei por um
ideal errado, foi só pela minha decisão pessoal. A grandeza da minha
opção, mesmo errada, consistia justamente nesse caráter de entrega a um
ideal. Quando se passa a conta, o ideal vira desculpa e a heroicidade
converte-se em negócio de mercenários.
Os petralhas querem, simplesmente, desmoralizar as Forças Armadas,
conspurcando a memória dos líderes militares, passando-lhes a conta pela
derrota que os comunistas sofreram no campo da luta armada. No festival
de safadezas em que se converteram os governos petralhas, inclusive o
da Dilma, a defesa dos comunas consiste em atacar a memória dos
adversários, no processo que o delegado Tuminha denominou, com muita
propriedade, de “assassinato de reputações”. Os corruptos militantes
petralhas seguem, aqui, as lições de tática revolucionária dadas por
Lenine há um século.
Mas o que fica pelo chão é certamente o compromisso com a verdade. Só
sendo muito ignorante ou cego pela ideologia para não perceber a
jogada. Os petralhas tentaram, além de saquear o país, estabelecer o que
Gramsci denominava de “Revolução Cultural”, consistente em destruir os
valores fundantes da sociedade burguesa. Tudo é válido para isso:
corromper as crianças com uma iniciação sexual tendenciosa no ciclo
fundamental, atacar a religião e os valores da moral cristã, destruir a
família mediante a divulgação maciça do erotismo e de novelas que deixem
em ridículo aqueles que acreditam ainda nos valores tradicionais
concernentes à moral familiar, semear a insegurança jurídica em torno à
propriedade privada (só resguardando, em contas secretas na Suíça, os
valores roubados à sociedade brasileira pelos dirigentes petralhas e os
seus colaboradores), semeando uma ética do “politicamente correto” em
face das críticas aos governos petralhas mediante a censura à imprensa
livre e a intimidação, etc.
Cito, a seguir, a pergunta que fazia o Blog da Força Expedicionária Brasileira:
“-Se o Lula, a Dilma e os seus ministros não sabiam do mensalão nem
da corrupção na Petrobras, por que é que os ex-presidentes militares e
os seus ministros deveriam saber de eventual tortura em quartel? Não
precisa explicar. Eu só queria entender!”
Sempre defendi que a sociedade brasileira tem o direito a conhecer a
verdade histórica, não apenas dos fatos ocorridos durante o ciclo
militar, mas ao longo de toda a nossa história. Para isso, o melhor
expediente é entregar essa tarefa aos historiadores. Poder-se-ia
constituir uma comissão com esses profissionais (os há excelentes, entre
os nossos intelectuais), a fim de que, superando as diferenças
ideológicas, coloquem em claro o que realmente aconteceu em determinado
período. Seja convidado, para tal efeito, a integrar essa comissão o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (criado por Dom Pedro II em
1838, sendo mais antigo, portanto, que as nossas Universidades e que
conta com uma respeitável trajetória no terreno da historiografia). Isso
é plenamente válido. Mas não seria necessário, para esta finalidade,
constituir, a partir do Governo, uma “Comissão da Verdade”, com a
finalidade sub-reptícia de deitar por terra a Lei de Anistia, à luz da
qual se pacificaram os espíritos na transição entre os governos
militares e a Nova República.
Nenhum valor relativo ao conhecimento da verdade têm as afoitas
conclusões da “Comissão da Verdade”. Esta não passou de mais uma
tentativa gramsciana imposta em vão pela petralhada. O destino que
espera a essa tal Comissão, bem como às suas conclusões, é simplesmente o
esquecimento.