Os autofalantes do Maracanã podem anunciar a substituição, do Padrão Fifa pelo Padrão Interpol. Romário tinha razão, a CBF e a FIFA são casos de polícia mesmo, conforme o baixinho vinha dizendo há décadas. Ironia para a instituição que humilhava países até há pouco, impondo o seu “Padrão FIFA”, ter seus dirigentes atrás das grades. Mas o mundo acorda mais civilizado e quem sabe a nova era tenha o símbolo do “Padrão Interpol”.
A Polícia da Suíça prendeu os dirigentes da FIFA a pedido do Departamento de Justiça Norte-Americano, baseadas em investigações do FBI que começaram em 2011. Embora no caso apenas a Polícia Suíça tenha sido acionada pela Justiça americana para as prisões, se trata de um caso de colaboração internacional entre polícias que podemos chamar livremente de “Padrão Interpol”, a qual na prática é uma central de informações que permite que polícias de diversos países possam trabalhar de modo integrado. A nossa Polícia Federal, que atua de modo exemplar contra a corrupção, é a representante brasileira na Interpol.
É curioso que o processo contra os dirigentes da FIFA tenha começado nos Estados Unidos, país sem muita tradição no futebol, mas cuja legislação permite processar estrangeiros baseados em fios tênues com o país, tais como contas em bancos americanos e até o uso da internet. O presidente russo Putin não gostou e é uma voz isolada de protesto em defesa da FIFA, querendo interpretar a iniciativa como prejudicial à Copa do Mundo no seu país em 2018. Uma grande bobagem pois em primeiro lugar haverá tempo suficiente para a FIFA se reorganizar até lá, mas principalmente porque diminuir a roubalheira só trará benefícios a todos, inclusive aos países envolvidos. Sendo Putin conhecido por sua ambição por dinheiro, parece pouco provável que queira reeditar a “guerra fria” e mais provável que ele próprio tenha suas próprias transações com a Fifa. Não é ideologia, são negócios.
Claro que os americanos são movidos a interesses e só foram atrás dos desvios do futebol quando tiveram seus negócios frustrados, pois queriam a Copa de 2022 nos Estados Unidos ao invés do Catar. Mas mesmo que a motivação americana não tenha sido tão nobre, ajudou a penetrar num castelo de corrupção internacional que vinha ditando normas até de costumes sobre os países – haja visto o caso da obrigatoriedade de vender a cerveja de seus patrocinadores nos estádios da Copa do Mundo.
O ex-jogador francês Platini, comparado a Romário pela origem de futebolista e por seu combate à corrupção, cerra fogo agora no todo poderoso Blatter. Romário mira no Presidente da CBF, Marco Polo Del Nero.
O “Padrão Fifa” está atrás das grades, agora é tudo com o “Padrão Interpol” mesmo.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade.
Fonte: EcoDebate