Em entrevista concedida à BBC Brasil, na Harvard Law School, nos Estados Unidos, Deltan Dallagnol, procurador-chefe da força-tarefa da operação Lava Jato, disse que agentes públicos não vazam informações – a brecha estaria no acesso inevitável a dados secretos por réus e seus defensores. A entrevista foi concedida a ‘BBC Brasil’.
“É muito difícil identificar qual é o ponto (de origem do vazamento), porque se você ouvir essas pessoas, elas vão negar”, afirmou.
“E não cabe ouvir o jornalista em relação a quem lhe passou a informação porque existe, no Brasil, e deve existir, o direito ao sigilo de fonte”, afirmou, um dia antes do juiz Sérgio Moro dizer à ‘BBC Brasil’ que “identificar vazamentos é quase como uma caça a fantasmas”.
Os vazamentos ganharam ainda mais destaque na tarde de segunda-feira, quando trechos do primeiro depoimento do empreiteiro Marcelo Odebrecht a Moro foram divulgados pela imprensa ainda enquanto Odebrecht estava na sala do juiz federal.
Em longa conversa com a reportagem, Dallagnol afirma que a corrupção “está no alto nível do poder” há décadas, mas que é “é praticamente inviável investigar fatos anteriores a 2002″ porque instituições bancárias e fiscais não mantêm registros por tanto tempo e porque “tudo o que aconteceu antes de 2002 está prescrito”.
O procurador federal defende, entretanto, que a corrupção se torne crime imprescritível e afirma que o deslocamento da operação também para os Estados poderá revelar “crimes praticados por toda uma miríade de partidos políticos”, além de “PT, PMDB e PP”.
Dallagnol nega críticas de que a operação “espetacularizaria” investigações e afirma que “uma busca de ampla transparência num caso que tende a despertar polêmicas por envolver pessoas tão poderosas” é algo “saudável”.
Desde março de 2014, a operação já identificou R$ 6,2 bilhões em pagamentos de propina entre políticos e empresários, com prejuízos que podem chegar a R$ 42 bilhões. No total, 260 pessoas foram acusadas criminalmente – e 90 prisões preventivas foram decretadas.
Leia a entrevista completa com Deltan Dallagnol, que também defende a famosa apresentação de Powerpoint que fez sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e afirma que a Lava Jato deve durar, “pelo menos, até que as reformas no sistema político e de Justiça criminal sejam inevitáveis”. Clique aqui e confira a entrevista na íntegra.
Fonte: BBC Brasil