Presidente da Turquia remeteu a linguagem do tempo das Cruzadas
Recep Tayyip Erdogan
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, atacou a Áustria após o anúncio que o país irá fechar sete mesquitas e expulsar dezenas de imãs muçulmanos patrocinados pelo governo turco.
“Essas medidas adotadas pelo chanceler austríaco estão, eu temo, levando o mundo para uma guerra entre a Cruz e o Crescente [símbolo do Islã]”, afirmou Erdogan durante um discurso em Istambul.
A decisão de expulsar imãs radicais, da Associação Turco-Islâmica (Atib) – entidade próxima ao Partido da Justiça e do Desenvolvimento, liderado por Erdogan é parte do anunciado combate ao “islamismo político”, que coloca a religião acima da sociedade.
“Eles dizem que querem expulsar da Áustria os nossos líderes religiosos. Acham que não reagiremos se fizerem algo do tipo?”, questionou Erdogan, que ligou a decisão a uma “onda populista, islamofóbica, racista e discriminatória”.
O anúncio do gabinete do chanceler conservador Sebastian Kurz, veio após a divulgação de vídeos onde crianças eram ensinadas dentro das mesquitas a dizer que desejavam o martírio e que o islã vinha antes da pátria.
Segundo a imprensa austríaca, entre 40 e 60 imãs, acompanhados de suas famílias, devem ser expulsos assim que as investigações foram concluídas. Todos eles tiveram a extensão de seus vistos de residência negada.
Os termos usados por Erdogan aludindo a uma “guerra santa” são recorrente e remetem ao que era usado nos tempos das Cruzadas, quando cristãos e muçulmanos disputavam o controle da Terra Santa. O crescente – meia lua vista no alto das mesquitas – era o símbolo dos exércitos islâmicos.
Líder islâmico mundial
Os discursos de Erdogan e suas decisões recentes deixam claro a sua intenção de restaurar o Império Otomano, onde um califa governava boa parte do Oriente Médio, incluindo Israel.
O uso da expressão “guerra santa” remete a ideia da jihad islâmica, que motiva há séculos as mortes em nome da sua religião.
No final do ano passado, Erdogan disse que a Europa começou uma “cruzada” contra o islã. Ele reclamou da decisão do Tribunal Europeu de permitir que empresas proíbam o uso do véu islâmico em horário laboral.
Mais uma vez a escolha de palavras remete a um período de muito sangue derramado em nome da religião islâmica. As cruzadas foram movimentos militares anti-islâmicos que duraram séculos e geraram milhares de mortos.
Islâmico praticante, Erdogan tenta se consolidar como o maior líder muçulmano do mundo. Seu discurso e de seus ministros mostra que a retórica religiosa da Idade Média parece ter voltado de vez.