A presidente Dilma Rousseff defendeu o ajuste fiscal em pronunciamento de rádio e TV neste domingo (8). Ela pediu apoio da população e do Congresso para a implementação de medidas que afetam a "todos" e afirmou que as críticas contra o governo são "injustas".
"Absorvemos a carga negativa até onde podíamos e agora temos de dividir parte deste esforço com todos os setores da sociedade", afirmou a presidente.
Dilma afirmou o ajuste é uma medida tomada "corajosamente". "Mesmo que isso signifique alguns sacrifícios temporários para todos e críticas injustas e desmesuradas ao governo".
A defesa ocorreu na sua fala sobre o Dia da Mulher -sobre o tema, anunciou que irá sancionar nesta segunda (9) o projeto que considera assassinato de mulher um crime sujeito a penas mais severas. Dilma retomou a narrativa segundo a qual o Brasil está sob impacto da crise internacional iniciada em 2008. Ela insiste que o Brasil tem "fundamentos sólidos" e que "nem de longe [o país] está vivendo uma crise nas dimensões que dizem alguns".
"Muito diferente daquelas crises do passado, que quebravam e paralisavam o país." A presidente fez uma crítica à mídia pela forma com que descreve a economia -as previsões são bastante pessimistas para 2015, com todos os indicadores até aqui apontando o risco de uma recessão, a inflação namorando os 8% anuais e o emprego dando sinais de arrefecimento. "Os noticiários são úteis, mas nem sempre são suficientes. Muitas vezes nos confundem mais do que nos esclarecem."
Ainda assim, Dilma concedeu que a situação é preocupante. "Você tem todo direito de se irritar e de se preocupar", afirmou, após elencar que o país vive a "segunda etapa" da crise, agravada pela seca do Sudeste e Nordeste, o que obriga o governo a usar "armas diferentes e mais duras". Fez então o tradicional apelo por união de governantes em momentos de dificuldade. "Peço a você que nos unamos e que confiem na condução deste processo pelo governo, pelo Congresso."
A menção ao Parlamento reflete as dificuldades que o governo vem enfrentando nas Casas dominadas por um PMDB cada vez mais arredio, com seus dois presidentes culpando o Planalto pela sua inclusão na lista de investigados da Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobras.
Na semana passada, por exemplo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), devolveu a medida provisória que mudava o regime de desoneração de folha de pagamento de vários setores e obrigou o governo a enviar um projeto de lei -o que vai atrasar em vários meses a implementação da medida, que visava auferir R$ 5,4 bilhões neste ano para o ajuste fiscal. Sobre a Lava Jato em si, defendeu brevemente a "apuração ampla" sobre os "episódios lamentáveis".
Dilma lembrou que em 2003 o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva também teve de promover um ajuste fiscal e que "depois tudo se normalizou", em citar, contudo, que o ambiente externo foi excepcionalmente favorável ao Brasil naquela época, ao contrário de agora. Afirmou que o "esforço fiscal não é um fim em si mesmo", e sim "uma travessia". Negou que irá "trair" a classe média e os trabalhadores, mas anunciou que todos pagarão pelas medidas. (Informações de Folha Press/Folha de São Paulo)